Yoga lá de dentro


 Por: Renata Reif
Trata-se de uma prática mágica com abordagem vigorosa ou relaxante





Trata-se de uma prática mágica com abordagem vigorosa ou relaxante

Por Renata Reif

O budismo em sua essência é representado por dois pilares centrados na perspectiva do amor e da compaixão e os caminhos para se atingir tal estado são muitos: pode ser por meio de rituais, cânticos, mantras, práticas corporais, mensagens de paz e esperança. Há implícita nessa filosofia a consciência de que não dá para adiar questões de ajuda ao próximo, daí a prática voltada à iluminação de todos os seres, sem prejudicar qualquer criatura. Vale lembrar que Buda foi aquele que despertou. Assim, busque a linha mais adequada para você.


Profundo relax
O mais importante da prática de Kum Nye (uma abordagem mais relaxada de Yoga Tibetano) é a sabedoria e a experiência do momento. É lenta, calma e vivencial. O que isso quer dizer? Trata-se de um sistema suave que procura contatar o presente, sem entender o conceito, sem pensamento, menos intelectual e mais experimental. Dentro da sala de aula, a trilha sonora é sempre a mesma. Uma grande roda de prece produz um som incessante, que tanto pode incomodar como acalmar. Apesar disso, favorece a concentração para a consciência do momento presente.

Por outro lado, a respiração acompanha todo o movimento e as sensações, observações e sentimentos são simultaneamente estimulados. Rita Toledo, professora do Instituto Nyingma (zona oeste de São Paulo) explica que a prática visa à integração do corpo, da respiração e da mente. O início de uma aula clássica ocorre com o praticante sentado em lótus ou na cadeira (para quem não tem condições de sentar-se no chão). Todos os gestos e elementos são relembrados para que o aluno componha a postura. Não se fala em alongamento e sim em extensão dos músculos, em tração da coluna.

Alem disso, exercícios respiratórios e de movimento são intercalados por auto-massagem com o objetivo de restaurar o fluxo de energia em todos os níveis de vitalidade e disposição e romper pontos de tensão nos aspectos, psíquico e físico. Nesse estilo de Yoga, Rita observa que o chamado descanso – equivalente ao savasana - é fundamental para que o corpo possa absorver e integrar os benefícios da prática. Esse descanso se faz sentado ou deitado e tem duração de 10 minutos. Encerra-se a aula com o mantra clássico de três sílabas poderosas: Om (corpo) Ha (purificar fala) Hum (ações da mente), que visa o bem-estar de todos os seres sem exceção.

Voz, corpo e mente
O Dorje (Yoga do diamante) é uma prática tântrica complexa constituída por 81 seqüências, 81 ritos e 108 tipos de meditação, que liberta e amplia a mente. Em todas as aulas trabalham-se os três corpos. De acordo com Andrea Sechini, proprietária da Casa Tibetana em São Caetano do Sul, as aulas não têm rotina fixa e valorizam a consciência do estado de presença. Há três condições que afetam a alma: o tempo (umidade e temperatura), condições mentais (do aluno e do professor) e condições físicas. A aula inicia-se com um aquecimento de purificação, seguido da conscientização ou Dança do Vajra.

O Yoga diamantino, como é chamado, valoriza o movimento e tudo é considerado um fluxo. O grande desafio é integrar as aulas ao dia-a-dia, unindo a nossa consciência à consciência universal. Segundo a orientação de seu mestre Swami Atmajoyti Nayana (Dorje Tulku), Andrea ministra em suas aulas uma prática para o corpo, uma para a voz (energia vital) e outra para mente. Tudo carregado com muita simbologia. A bibliografia sobre este estilo de Yoga é escassa pois a maior parte do ensinamento se dá de forma oral e direta para proteger a linhagem. Porém textos que expliquem a transformação nos três corpos de Buda (Tri-Kaya) são fundamentais, assim (como) o estudo dos Seis Yogas e das Quatro Preparações conhecidas no Tibete Antigo como Snon Hgro Bzi.

Dama Pada (sutras de Buda) e Maha Mudra são antigos textos hindus e boas referências para os seguidores dessa linhagem. Um livro fácil de ser achado no Brasil e que pode servir como uma boa introdução aos Yogas de origem tibetana é "A Ioga Tibetana e as Doutrinas Secretas" do professor W. Y. Evans-Wentz, que segue a versão inglesa do Lama Kasi Dawa-Sandup (Ed. Pensamento). Sobre o Dzogchem, um de seus gurus estará em dezembro no Brasil; Chögyal Namkhai Norbu Rinpoche tem livros disponíveis em português como "O Espelho" e "A prática na vida diária”.

Yoga pragmático
A aula da mente sustentável tem duração de 2h e inclui um trabalho respiratório, passa para um relaxamento que exercita os músculos da face e solta as mandíbulas. As posturas físicas focalizam os chakras inferiores, pois de acordo com Wilson Moura, do Instituto Mahayana em Niterói, é preciso trabalhar a base, justamente o que a sociedade necessita. Trabalhar pernas e a região umbilical desenvolve o aspecto emocional. Ele enfatiza que de nada adianta uma aula multi-teórica sem prática.

São 40 min de pranayama e asanas, 30 min de meditação e a parte final diz respeito à parte intelectual, o trabalho da mente sustentável. O trabalho é pragmático e não filosofia solta. São utilizadas 4 técnicas, 3 tântricas com mantras e a silenciosa, que visa a quietude. São 4 semanas por mês e uma técnica por semana respectivamente: Shamatha, Dhyani Buddhas, Chenrezi - o Buda da compaixão e Tara Verde.

“É possível atingir a iluminação por meio da vivência”, ressalta ele. Isso não significa que se pode obter resultado a curto prazo, sem dedicação. A mente é distraída por uma avalanche de desejos. Sem o estudo dos condicionamentos do processo mental, não se obtém resultados sustentáveis. O principal fundamento é trabalhar a energia vital que circula por meio dos nadis (canais). Se o prana circula pelo sushunma (canal central), a energia se transforma e não se extingue.

Wilson afirma que a mente é pura em sua essência e a ilusão é proporcional à ignorância. Por isso se pode direcionar a prática para o autoconhecimento genuíno, assumir a responsabilidade pelas ações do corpo, fala e mente. A percepção budista visa a cessação da ignorância. Diante dessa reflexão, a preocupação é com o agora. Qual é o seu quadro atual? O processo atual é fruto do passado e o futuro é a conseqüência das ações de hoje. Esteja sempre atento a essa lógica e memorize a formula para desenvolver mais virtudes e diminuir as aflições. Compaixão + amor = mente iluminada.

+ infos:
Instituto Nyingma
Casa Tibetana
Instituto Mahayana

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