Yoga e cura
Por: Sandro Bosco
Como a prática complementa o tratamento de doenças
Leia na íntegra a coluna de Sandro Bosco sobre Yoga e cura.
Doenças que, como o câncer, são consideradas graves, causam grande impacto na vida dos pacientes. Quando falamos em minimizar esse impacto e inserir o paciente numa nova rotina exigida para o tratamento, o Yoga pode ser positivamente complementar tanto para a mudança dos hábitos nocivos à saúde bem como um auxílio na melhora dos três níveis, corporal, mental e emocional. Isto ocorre com uma boa competência, uma vez que a prática do Yoga tem a eficácia de nos fazer perceber nossos condicionamentos, os samskaras (impressões do passado), e rever como transformar os que não são construtivos à vida.
Ano passado, na época das eleições brasileiras, vi um trechinho de um filme com a atual presidente eleita dizendo em discurso em alto e bom tom que o “câncer é uma doença curável”. Obviamente que esta afirmação pública é muito importante para ela e também para todos que sofreram do câncer.
É fundamental manter uma atitude de convicção de ter vencido a doença, pois isto move nossos sistemas em direção à saúde e à vida. Mas do ponto de vista da medicina oriental sabemos que a doença é um desequilíbrio antes de tudo energético e que a mente funciona pelos diferentes pensamentos gerados a cada instante, que são (os pensamentos) por sua vez, pura energia. A equação se fecha em como podemos gerar bons pensamentos e como descobrir na prática o que são bons pensamentos.
Uma sábia yogi indiana já disse em um de seus ensinamentos: “Uma mente de ouro, uma vida de ouro”. Naturalmente que isto se refere a tudo. Eu poderia aqui estender com boa certeza que “uma mente de ouro, uma saúde de ouro”; “uma mente de ouro, uma compreensão da vida de ouro”; “uma mente de ouro, uma cura de ouro”; “uma mente de ouro, uma compreensão do processo da doença de ouro”; “uma mente de ouro, uma compreensão do processo da cura de ouro”; e finalmente podemos refletir sobre: “uma mente de ouro, uma prática de Yoga de ouro”.
Quando uma pessoa tem uma doença com o estigma que nossa sociedade impõe sobre o câncer e outras doenças tidas como graves, é natural que ela se volte para os valores menos terrenos da vida. Para alguns a doença vem como uma grande quebra (forçosa) de paradigmas, sem dar muitas opções senão a de re-pensar sobre a vida e a morte. Pode ser um momento difícil, mas pode ser rico de transformações interiores.
Como a minha busca no Yoga sempre teve um peso muito grande pelos processos interiores, pelo lado espiritual, acho que sempre estive aberto para pessoas que em algum momento da vida estão nesta busca que são estas que se vem em um beco sem saída pela doença. As perguntas inquietantes e triviais do ‘buscador’ como, “Quem sou Eu?”, “De onde vim e para onde vou?” sempre foram instrumentos da minha reflexão desde jovem.
Para o doente são comuns as perguntas do tipo: Quanto tempo eu tenho de vida? Será que vou morrer disto? Porque não me abri para a vida espiritual antes para estar mais preparado para este momento? Isto tudo faz você abrir-se para o novo, para a experiência do ‘agora’ mesmo que ele estivesse há décadas dentro de uma gaveta empoeirada na sua memória. Este momento de abrir-se para o novo é extremamente rico e fértil para a entrada dos princípios do Yoga e da meditação e para o início ou retomada da prática do Yoga. Sempre tive pessoas com câncer procurando minhas aulas, elas não vêm só em busca de saúde, mas de paz interior, buscam compreensão do mistério da vida.
Temos um bem precioso: a vida. Que é o mais precioso, e só nos damos conta mesmo deste valor quando a vida, a nossa vida, é ameaçada objetivamente.
No final da década de 90 quando os remédios para o combate ao HIV já tinham resultados mais positivos, tive muitos alunos e alunas soro positivos, HIV E HPV, foram mais de 50 pessoas em menos de dois anos. Foi um período intenso para mim de aprendizado e atividades neste sentido. Na época comecei a ter um excelente resultado com as aulas regulares baseado na série para o sistema imunológico proposta pelo Mestre Iyengar e ensinada no vídeo do Padre indiano, Joe Pereira, também professor de Iyengar Yoga. Os médicos destes alunos apoiavam ou insistiam para que eles não parassem a prática de Yoga. Alguns alunos, mais cuidadosos, puderam comparar o resultado daquele trabalho com as medições que tinham de fazer regularmente, por acompanhamento médico, em relação ao fortalecimento ou enfraquecimento do sistema imunológico. Os resultados eram bem positivos!
O Hatha Yoga culmina na prática dos Yogasanas – posturas – e pranayama – controle da respiração – e desde tempos védicos e imemoriais é um instrumento de cura no seu mais amplo sentido que é o de preservar a saúde. Estes são também, como sabemos, as ferramentas de tratamento da medicina Ayurvédica.
O Hatha Yoga foi concebido dentro da mais alta esfera de iluminação interior de verdadeiros sábios yogis da antiguidade e portanto seu poder é incalculável. Seu poder vai além da compreensão meramente racional além do que ele desenvolve a intuição. Ele equilibra substancialmente tamas, rajas e sattwa, (os três aspectos da natureza e os três humores que nosso organismo vive e oscila). Isto traz reflexos em todos os corpos ou como disse antes nos três níveis básicos que são o físico ou fisiológico, o mental e o emocional. Sattwa que conhecemos por equilíbrio (onde reinam os insights da vida interior) é também traduzido por ‘estado luminoso’. Quando transitamos, através da prática regular do Yoga, com mais freqüência neste estado, mais percepção e compreensão começamos a ter da profundidade do Yoga e da profundidade do nosso próprio Ser.
Nesse momento o aspecto da doença e a da cura podem ganhar uma outra percepção, tão grandiosa do valor da vida e do intrínseco valor da morte e da efemeridade deste corpo físico, que isto em si pode ser o trampolim para a cura.
Apoiado pela pratica “física” do Yoga a compreensão (mesmo que em partes ainda inconsciente do processo) é a grande chance da cura, pois é o momento de transmutação autoprovocada da matéria. É preciso, às vezes, se abrir a magnitude do universo interior e exterior para sentir o quanto convivemos com esta grandiosidade da sabedoria e poder onisciente que está nas células, moléculas, átomos e partículas subatômicas, para perceber o quanto a cura está em nossas mãos e está contida na própria compreensão da vida e do momento que você está vivendo e este é o cardápio do Yoga e da meditação, é o prato do dia.
Outro dia meu filho me mostrou em um site muito bem ilustrado as dimensões do universo. Foi uma ótima experiência, pois sempre gostei destes vislumbres vindos de comparações e visualização. Lá, passamos pelo tamanho do nosso planeta aos planetas maiores e até as estrelas de grande massa e magnitude. Isto nos remete como um relâmpago a nossa grandiosidade interior. Dizem ainda os sábios do Yoga que o universo interior é bem maior que o exterior.
Abhinavagupta, o yogi do norte da Índia antiga, dizia que só reconhecemos a grandiosidade do oceano, do sol ou do universo porque temos esta mesma grandeza dentro de nós. Este vislumbre é parte da cura, é a alquimia da cura.
Se ao falarmos de Yoga estamos nos referindo aos Yogasanas sabemos que eles têm um poder (além do já mencionado) de equilibrar as funções dos diversos sistemas (imunológico, endócrino, nervoso, digestivo, circulatório). Nunca esquecer que o Hatha Yoga como ferramenta da medicina ayurvédica trabalha em todos os corpos e no corpo físico como um todo!
Se ao falarmos de Yoga estamos nos referindo aos Yogasanas sabemos que eles têm um poder (além do já mencionado) de equilibrar as funções dos diversos sistemas (imunológico, endócrino, nervoso, digestivo, circulatório). Nunca esquecer que o Hatha Yoga como ferramenta da medicina ayurvédica trabalha em todos os corpos e no corpo físico como um todo!
O prana - a bioenergia – no corpo é uma só, mas os rishis – sábios da antiguidade - para nossa compreensão, subdividiram em cinco – prana, apana, samana, udana e viana.
Viana, o mais importante, rege a circulação e quando este é ativado ou harmonizado no exercício da sua função ele aufere tremendo incremento na saúde e em todos os outros subpranas. Imagine um campo árido e seco que você começa a irrigar sistematicamente, logo a vida florescerá mesmo que seja capim ou ervas sem importância. Mas se você plantar frutas e alimentos úteis à vida, também estes crescerão, uma vida regrada com boa alimentação, hábitos saudáveis e pensamentos luminosos também tenderão a florescer, depende só de você. Irrigação é vida! Os Yogasanas são excelentes no estímulo a uma ampla circulação sanguínea (e energética), hora por meio gravitacional, hora por compressão e estiramento dos órgãos internos e glândulas, hora pelos dois.
Há muito tempo uma amiga foi visitar a sogra no hospital que sofria de muita dor. Ela tentando achar palavras de consolo àquela pessoa que lhe era muito querida disse: “Pois é, nestes momentos é que vemos a importância e o valor da saúde” ao que a senhora enferma retrucou, “Minha filha neste momento vejo o quanto é importante ter paz no coração, paz interior, pois com ela podemos suportar a dor com equanimidade e tranqüilidade”. A paz interior, OM Shanti, que repetimos depois de todos os mantras, orações e práticas yogis é que é a base. Uma mente em paz está mais receptiva ao processo de cura do que uma mente revoltada com a doença como se fosse vítima de algo. Pelo Yoga sabemos que não somos vítimas de nada. Não tem algoz nesta história senão nós mesmos.
O sábio Patanjali chamou avidya, dos cinco principais sofrimentos humanos; o pior. Avidya é a ignorância, a falta do saber. Avydia é quando na vida damos mais valor às coisas e questões transitórias do que às permanentes. Avydia é a grande confusão dos valores que causa muito estresse e desavenças e porque não doenças? Pela lei inexorável do Karma, nós mesmos, por inconsciência ou incompetência, provocamos ou construímos tudo que temos, tudo que somos e tudo que está acontecendo conosco agora. A prática do Yoga vai trazendo clareza nos recônditos mais sombrios da nossa mente para entender estes processos. O grande entendimento para a cura é que “eu sou responsável pelo que estou vivendo agora e portanto, posso trabalhar positivamente no curso deste movimento.
Em sua maioria, quando alguém com uma enfermidade vem procurar as aulas, não era praticante. Os números diferem, pois muitas vezes vêm em busca de cura, ou vêm em busca de saúde e é melhor quando vêm em busca de compreensão do momento presente, pois na compreensão está contido todos os três.
Hoje a maior procura por aulas de Yoga vem da busca do que a mídia chama de ‘qualidade de vida’, que inclui um leque de motivos. Temos também pessoas sensibilizadas ao Yoga como um excelente meio de conhecer-se no sentido mais íntimo e interior do que isto significa, algo como trazer para a sua vida uma religião não dogmática e não institucionalizada e que dá a liberdade de ir percebendo o que é melhor para si sem imposição externa. O Yoga como um caminho de sensibilização natural à vida, à natureza e ao ser humano. Há muitos que vêm por ansiedade e dor de cabeça, mais do que por depressão e com problemas de coluna, uma terça ou quarta parte. Os problemas mais graves como câncer ainda são uma minoria.
Mas quando tenho a oportunidade de conhecer um pouco mais o aluno/a, vejo que é comum encontrar nele algum momento difícil de sofrimento maior e profundo que o empurrou para o Yoga. Às vezes um falecimento na família, uma sensação de perda forte, ou mesmo uma doença grave que o forçou a refletir no passado sobre a fragilidade da vida. Novamente na maioria das vezes isto é mais inconsciente do que consciente. Como ensina os preceitos budistas o sofrimento tem o seu valor de purificação e crescimento em busca de uma saída.
Quando um aluno busca as aulas por estar com uma doença grave, recomendo a prática ou aula regular de duas vezes por semana, menos não, mais OK.
Para começar, ele assina que tem uma autorização ou recomendação médica para começar a praticar Yoga e procuramos esclarecer se ele conhece o que vai fazer, pois no meu caso, da escola Yoga Dham, emprego o método Iyengar que é bem diferente de outros sistemas.
Recomendo medir seus esforços durante a aula dependendo do grau de ânimo ou vitalidade (força física) que ele disponha e cobro regularmente feedback do que está sentindo e como está se sentindo. Recomendo oportunamente cultivar a paciência uma vez que tratamos com muitas posturas restauradoras deitadas e sentadas e elas demandam permanência de tempo o que mexe com a ansiedade. Lembro ao aluno/a que a paciência não é bom só no Yoga, é bom para muita coisa, então por que não aproveitar a aula de Yoga para desenvolvê-la? Se o problema é câncer recomendo inicialmente, dependendo da gravidade, posturas restauradoras do Iyengar Yoga com acessórios que são sempre muito bem recebidas pelo enfermo. Estes asanas começam a reconstruir a biovitalidade – o prana – até que retorne a um padrão necessário.
Alguns sintomas que a pessoa possa trazer devido ao tratamento quimioterápico medicamentoso ou radioativo podem ser atenuados por alguns asanas específicos. Cada caso é um caso. Como disse, é importante ter um feedback do que a pessoa está sentindo passo a passo.
Aos que me perguntam se a cura é possível, posso falar do efeito placebo. Muito estudado no século passado pela medicina ocidental, já atesta que em até 37% a pessoa pode curar-se pelo que podemos chamar vulgarmente de ‘sugestão’. Mas placebo é mais do que isto. O amor das pessoas que você convive cura. Compartilhar a sua intimidade com outras pessoas: cura.
Existe um levantamento enorme e relatado em um dos livros do cardiologista norte americano Dr. Dean Ornish, baseado em experimentos e pesquisas publicadas e feitas em centenas de locais em todo o mundo comprovando como estes dois fatores amor e intimidade são (em bases de quantificação científica) tem efeito potente e eficaz de cura.
O efeito placebo como se sabe, registrou em inúmeros experimentos que para que ele ocorra deve-se a três fatores.
1 – que haja confiança no profissional que cuida de você
2 – que haja confiança no método por ele empregado
3 – que haja uma empatia entre paciente e médico ou profissional de saúde
No Budismo Tibetano onde encontramos tantos princípios do Yoga e da meditação também conhece-se o efeito placebo, onde os três pontos não diferem muito do nosso, exceto no terceiro quesito que eles traduzem como “que haja um bom Karma entre os dois”.
Os sábios yogis que escreveram os shastras – escrituras antigas – dizem que o mundo é como você o vê e nisto parece estar contido uma fatia do mistério do efeito placebo ferramentando o poder da mente.
No placebo, ao contrário dos outros remédios, não há substância quimicamente ativa, ele é de conteúdo inócuo, mas assim mesmo a cura ou a melhora ocorre.
Em Nova York, nos anos 60, foi feito um experimento (narrado no livro do médico Dr. Herbert Benson) entre um renomado médico ginecologista e suas várias pacientes gestantes que atravessavam um período de enjôos. O médico disse a elas que havia um remédio novo que passava o sintoma de náuseas e enjôos. Mas o medicamento ao contrário do prometido era um provocador, ou seja, para que a pessoa regurgitasse tendo, portanto o efeito de piorar o enjôo. O que ocorreu foi o contrário todas sentiram grande melhora dos enjôos e náuseas.
Nas Upanishads, que contém a sabedoria mais antiga do Yoga, é dito que “dentro de cada átomo existe mundos e mundos”. Não há limite dentro de nós tanto para o mal quanto para o bem. Depende de cada um. O poder regenerativo das células é incalculável. O poder que uma mente preocupada tem de adoecer o corpo físico é igualmente incalculável.
Para mim, o Yoga vê a cura da doença e a saúde como a mesma visão da medicina indiana ayurvédica. Não somos iguais. Não existe um só ser humano igual. O remédio que vale para você, para o mesmo problema, para o mesmo diagnóstico, pode não valer para mim. Isto torna a cura única. Não é por acaso que temos digitais diferentes. O que funciona para um não funciona para outro. Somos um universo de possibilidades infinitas e cada universo de cada ser humano é diferente nas suas combinações.
Quando a busca pela cura é interna tanto quanto externa, os milagres, se assim chamarmos o que não é compreensível racionalmente, se multiplicam!
Nesta mesma medicina indiana sabe-se que os diferentes corpos de um ser humano não estão separados, estão juntos e interagem no mesmo local, no mesmo instante por isto são em verdade um só. O processo do Yoga é perceber e depois reconhecer esta Unidade dentro e fora de nós mesmos.
O Yoga e a meditação ajudam na cura porque mudam o padrão de comportamento, porque podem transmutar aquilo que está por detrás do comportamento. Os samskaras, que são as impressões do passado ocorridas nesta vida ou em outra, movem-nos através de comportamentos padrões e repetitivos. Lógico que também nossos educadores, nossa sociedade e outros fatores bem tangíveis, moldam nosso comportamento, mas o processo não deixa de ser o mesmo.
Mais de 87% dos pensamentos que vem a nossa mente a cada dia são repetitivos. Podem estar configurados em situações diferentes e povoados por personagens diferentes, mas no fundo, o medo é repetitivo. Pode-se analisar quão enfadonha pode ser a vida humana dentro desta condição. Nossa mente tem duas referências: o arquivo passado e a partir daí elabora fantasias futuras. O Yoga e a meditação (para a maioria de nós) através de um longo processo, levará a mente, irremediavelmente a conhecer, mais cedo ou mais tarde, a “liberdade da consciência estabelecida no momento presente”. Quando começamos a trafegar mais e mais neste espaço interior de “consciência no momento presente”, estamos falando de um força interior poderosa que leva a um enfraquecimento e a um entardecer do ego mental condicionado e de seus comportamentos condenados. Comportamentos que condenam você a sofrer pelas suas próprias crenças interiores.
A maioria destas crenças é irracional, mas é o que você tem e é mais fácil e seguro sofrer com elas do que aventurar-se no desconhecido de questioná-las ou abandoná-las para viver algo novo. Quantos de nós já vivemos em si mesmo ou em pessoas de sua convivência como as doenças se manifestam (e com grande velocidade) conforme os acontecimentos (repetitivos) a sua volta. Desde uma gripe até algo mais grave. Pois se os seus comportamentos são repetitivos, sua fala também é, suas reações ao mundo e aos outros também é, você os torna repetitivos e assim as doenças seguem ciclos repetitivos e morosos.
Não é fácil mudar comportamento. O sábio Patanjali (... a 2060 a.C.) alerta, para isto, a necessidade de abhyasa - a prática do Yoga regular e constante – e de tapas, o fogo interno purificador e renovador, despertado pelo esforço sobre si mesmo. Mas, processos que agem na matéria do inconsciente como o Yoga e a meditação o fazem de maneira natural, mas infalível, muitas vezes vigorosa e tumultuada como trovoadas com relâmpagos e tempestades, mas natural.
Já a meditação lida com o esvaziamento interior (sunya) e com a entrega. Enquanto vivemos na grossa malha interna de condicionamentos vivemos apegados, grudados ao que temos de real que é a nossa lista interior e repetitiva de pensamentos e medos. Neste processo não há entrega. Se houvesse entrega e falo aqui da auto-entrega, não haveria medo. Há na vida um movimento que é do nosso próprio crescimento como ser humano e para nós leitores da revista o crescimento como praticantes de Yoga e meditação. Mas nem sempre nos entregamos a este movimento porque estamos apegados as crenças que construímos e convivemos há tanto a tempo. No caso do praticante de Yoga a ‘trombada’ pode ser ainda maior porque você começa a ver, perceber e sentir mais rapidamente e claramente tudo a sua volta e dentro de você.
Por quê? Porque o Yoga ativa seus sentidos, seu campo de percepção, aumenta seu campo energético porque desperta a energia latente e é aí que estes processos tanto de cura, quanto de adoecer, quanto de mudanças, ficam mais explícitos.
Nesta hora o exercício da autoentrega é imprescindível!
Você e eu já vimos alguém apegado a sua própria doença porque, talvez ela já é tão crônica que faz mais sentido viver com ela do que sem ela. É hilário, mas é real. A pessoa já se acostumou aos remédios que tem que levar na ‘mochila’ e o que vai sentir de sintoma se determinado evento ocorrer ou se encontrar esta ou aquela pessoa no caminho.
Quando você pratica meditação vai perceber (com o tempo) que há algo maior por detrás da densa cortina dos pensamentos, vai perceber que mesmo que seja só em lapsos de tempo. Você não pensa em nada e mesmo assim a Consciência permanece. Leva um tempo, mas você começa a se identificar com esta Consciência e sentir nela um outro porto seguro (e cada vez mais seguro) algo mais estável e muito além das suas limitadas crenças irracionais. O tempo na prática da meditação leva você a perceber que talvez você seja esta própria Consciência. Esta segurança interior é bem maior do que qualquer outro tipo de segurança que você já tenha experimentado desde o ventre materno. Neste momento do seu sadhana – prática espiritual - você já transformou e transmutou a fonte geradora de boa parte das doenças.
A meditação advém da prática correta dos asanas e do pranayama. Primeiro é preciso abrir o corpo com os asanas certos. O pranayama pode ser empregado em alguns casos em posturas deitadas, mas serão pranayamas extremamente simples na execução e no grau de exigência. E a própria prática dos asanas e pranayamas conduzem, se bem orientados, ajustados e apropriados ao estado de meditação.
Para cada doença e considerando os sintomas de cada momento, existe um tipo específico de prática. Lembre-se que o Yoga trabalha em todos os corpos. O Yoga (me refiro aqui ao Hatha Yoga) é uma reconstrução das dosagens dos pranas. O Yoga tem a função holística de trabalhar as partes pelo todo. E se for pelas partes então estaremos atingindo a totalidade do organismo de uma forma ou de outra. É preciso entender, valorizar e seguir o princípio do Yoga. O Yoga não é um conjunto de regras rígidas é um caminho da experiência. A experiência é substancialmente única e portanto difere de indivíduo para indivíduo.
A melhora depende da assiduidade e da atitude do praticante, somado obviamente a habilidade ou experiência do professor. Novamente aqui preceitos como confiança do aluno para com o professor e confiança na técnica que é o Yoga são importantes ou fundamentais.
Hipócrates o pai da medicina disse que “o médico ajuda e a natureza cura”. Não é diferente no Yoga, obviamente. Mas primeiramente no caso do Yoga é necessário curar a si mesmo. Obviamente não significa que você não possa usar os Yogasanas para ajudar o aluno de um problema de saúde que você não tenha tido. Mas o ensinamento que temos aqui é que novamente e que a ação do professor de Yoga venha da sua própria experiência e não da sua mente. Venho ensinando já há bastante tempo. Só do método Iyengar já são mais de 10 anos, seria uma lista grande e variada de questões de saúde que passam todo os dias pela sala de aula, desde os problemas mais graves aos triviais. Já ensinei, como disse, a portadores do HIV ou Yoga para paraplégicos, o espectro é vasto.
Acho que o professor de Yoga neste campo principalmente deve trabalhar sem expectativas e sem promessas, vivendo o presente sentindo e partindo da sua experiência a cada momento, a cada aluno, a cada aula.
A cura é dinâmica. Não há uma cura definitiva neste corpo físico, na vida encarnado neste corpo nada é definitivo.
Por isto pelo Yoga ou tratamentos naturais a consciência é o básico e só assim pode haver mudança de hábitos e de comportamentos. O movimento é de fora para dentro.
O Mestre B.K.S. Iyengar disse uma vez: “A SAÚDE NÃO É UMA MERCADORIA QUE POSSA SER COMPRADA COM DINHEIRO. É UM ATRIBUTO A SER CONQUISTADO COM ÁRDUO TRABALHO. É UM ESTADO DE COMPLETO EQUILÍBRIO DO CORPO, DA MEN
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