Yoga, uma prática necessária
Imagine tudo perfeitamente bem. Você sem questionamentos sobre o Universo e sobre sua pessoa, com todas as perguntas respondidas. Imagine-se livre para viver o seu potencial, sem medos, apegos, livre de condicionamentos, livre para viver cada momento, aceitando-se e aceitando o rumo da vida e dos acontecimentos no mundo exatamente do jeito que eles são. Imagine-se sábio. Caso você se sinta dessa forma, não há na verdade necessidade de praticar yoga, pois o que queremos através da prática e do estudo é chegar neste lugar de paz, compreensão, aceitação, liberdade e bem-aventurança.
Por isso afirmo que, nós yogis, praticamos yoga por pura necessidade. Se em nossas vidas tudo estivesse perfeito, caso não houvesse dúvidas sobre a existência, caso não houvesse alguma inquietação e ignorância sobre nós mesmos e sobre o universo, além de muitas perguntas sem respostas, com certeza não iríamos investir ou “gastar” nosso tempo praticando yoga. Técnicas austeras, cheias de disciplina, super rigorosas, e que às vezes, pode até parecer uma tortura. Iríamos sim para a praia, encontrar nossos amigos, fazer algo mais fácil e divertido. Não quero dizer que a prática é algo chato, mas é necessário e principalmente no inicio, bastante esforço e perseverança.
Então praticamos yoga porque precisamos, temos uma necessidade de nos entender, de entender nosso sofrimento, de estar bem com nossos sentimentos e emoções, nossas perguntas sem respostas, nosso desconforto corporal e nossa inadequação no mundo. Você já deve ter notado que o yoga esta na moda. E que a visão e a expectativa que nós e as pessoas que não praticam yoga tem, é que os yogis são pessoas calmas, resolvidas, sem problemas e que vivem em perfeita harmonia. Esse é o ideal, mas não é tão fácil de chegar nele. Afinal, a maioria das pessoas vai de encontro ao yoga com muitos questionamentos e com vários problemas de saúde.
Essa é uma grande responsabilidade para os praticantes de yoga diante a sociedade, pois o yoga é um estado de consciência que produz paz interior, mas é um estado em que entramos e infelizmente saímos. Quando saímos deste estado, a primeira coisa que ouvimos é a famosa frase: “mas você não faz yoga?”. Fácil é falar, se yoga fosse realmente o remédio para todos os ataques de nervosismo, toda crise de ansiedade e insegurança, com certeza todos estariam praticando. O que não é o caso. O yoga pode sim ajudar muito, mas só faz efeito realmente quando dedicamos bastante tempo a ele. É uma troca proporcional, o yoga lhe dá a medida que você dá a oportunidade a ele. E tem muita gente por ai que fala mais do que pratica...
É importante lembrar que a pessoa que pratica yoga está na buscando e não necessariamente encontrou o que busca. Quando você inicia a prática de yoga, sente muitos resultados no corpo, na respiração e na consciência. Esse primeiro passo é como uma boa faxina em uma casa abandonada. Quando você limpa uma casa abandonada pela primeira vez, vê uma grande diferença, mas com o tempo morando na casa, percebe que existem muitas coisas a serem consertadas e muitas sujeiras nos cantos. Por isso, quando iniciamos a pratica do yoga sentimos efeitos superficiais, ou seja, mudança de postura, melhora no sono, maior conforto corporal entre outras coisas.
Mas é com o tempo de prática que podemos mudar nossos condicionamentos mais profundos, ou seja, a maneira como vemos as coisas, nosso gênio e modo de lhe dar com dificuldades do dia-a-dia, por exemplo. Mas o yoga só produz grandes resultados quando praticado por um longo período de tempo e sem interrupção. Essa mudança é lenta e deve ser lenta para não produzir danos tanto no corpo, como nas emoções, esta mudança deve ser um processo. É ruim quando por alguma razão perdemos o centro, pois o yoga se perde junto, ficamos decepcionados. Acabamos pensando que a pratica não adianta. Pois, além de todo o esforço, percebemos que ainda estamos muito longe do “ideal”, ou das nossas expectativas e das pessoas a nossa volta. Então a melhor resposta para a pergunta “mas você não faz yoga?” é: “imagina se eu não fizesse yoga!!!”. Com certeza as coisas seriam bem piores, pois estaria ainda mais desequilibrada, mais inconsciente.
Durante a caminhada do yoga encontramos vários obstáculos, mas lembre-se que obstáculos podem ser transpostos. Um deles é a incapacidade de se manter no estado de yoga. Isso acontece com freqüência, pois o caminho não é sempre na direção para onde queremos chegar. Às vezes, temos que voltar ou ficar parado para que a transformação aconteça gradualmente e dessa forma protegendo você de ter processos muito fortes que podem produzir mal estar, tanto físico como psíquico.
O caminho às vezes é fácil, às vezes difícil, às vezes damos passos largos, e muitas vezes ficamos parados. O importante é se manter atento o tempo todo, é se manter como testemunha observando o que acontece. E não desistir, pois a paz e a confiança de que tudo é da maneira que tem que ser acontece com o longo dos anos. Durante a caminhada nos vemos fazendo a coisa errada, saindo do caminho. O mais importante é manter a atenção e tomar consciência de que se está fazendo a coisa errada, afinal estamos o tempo todo fazendo um diagnóstico de nós mesmos. Em qualquer tratamento médico o mais importante para obter a cura é o diagnóstico, para assim tomar o medicamento apropriado, tratar o que tem que ser tratado. E nessa caminhada é errando, e tomando consciência que se aprende.
Outro obstáculo é a preguiça. Quando ela aparecer, lembre-se que sempre nos sentimos melhor depois da prática, é a constância na prática que irá produzir o auto-conhecimento e o equilíbrio interior. Sinceramente, nunca me arrependi de ter praticado yoga, e sim de ter deixado o dia passar em branco, sem praticar. Tenha na memória o final de uma ótima prática, onde você se sentiu nas nuvens ao terminar. Quando a preguiça ou o desanimo aparecerem, lembre-se desse momento feliz. Assim fica mais fácil iniciar, e depois de começar tudo ficar bem.
Basicamente o que a prática do yoga proporciona é um treinamento para nos mantermos no momento presente, que, aliás, é o único que existe. Essa presença ajuda na concentração e na conexão entre o que pensamos e sentimos, tornando a mente mais objetiva para poder ver as coisas como elas são e não como nossos sentimentos e condicionamentos estão acostumados. Isso torna a vida mais real. Dessa forma nos mantemos centrados em todas as situações e mesmo quando escorregamos tomamos consciência e podemos rever o que foi feito. Tente segurar a sua ansiedade espiritual. Mantenha-se no caminho, sem expectativas, pois ele é longo. E nem sempre o caminho mais curto é o mais fácil. Às vezes, um passo para trás é na verdade uma longa caminhada para frente. Isso depende de você aproveitar a oportunidade de aprender. Faça sempre a prática com uma mente renovada e fresca, como se fosse algo novo e único, pois isso nos ajuda a estar presente.
Ao escolher o caminho do yoga, muitas disciplinas e regras são requeridas, é importante ir com calma, mudando seus hábitos de forma tranqüila, equilibrada, sem muito controle. Algo que seja de dentro para fora e não com pressão de fora. Isso é muito importante no caminho, pois tudo que controlamos demais acaba criando uma pressão interna muito grande e chega um dia explode! Por isso muitas pessoas perdem a oportunidade de se aprofundarem no yoga, acabam perdendo um enorme presente de Deus. Vá com calma e sempre. Mantenha-se presente e tenha uma boa caminhada!
Camila Reitz pratica Yoga há 15 anos, estudou no Brasil, Índia, Estados Unidos e Austrália, é diretora do Yogashala em Florianópolis onde ministra curso de formação para professores de Yoga.
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