Asteya: cultivando a honestidade
Por: Camila Reitz
O assunto deste texto é asteya, o terceiro dos Yamas (princípios éticos do Yoga), estes princípio traz a observância para não roubar. Parece muito simples e temos quase a certeza de que esse princípio seguimos sem dificuldades, pois não roubar é ser honesto. E veja o que Patañjali escreve no Yoga Sutra sobre este principio:
“Quando a honestidade estabiliza-se firmemente [no yogi],
todas as jóias [riquezas] fluem em sua direção.”
Honestidade é um dos princípios básicos do Yoga e quando se pratica este principio muitas riquezas surgem para nós. Assim como os outros princípios, este abrange vários aspectos da vida do yogi. É muito fácil perceber que não pegamos nada de ninguém a força, com um ladrão faz. Mas será que não estamos pegando pertences de outros sem nem mesmo perceber? E se pensarmos em políticos que roubam dinheiro de pessoas que morrem em hospitais públicos, isso é revoltante.
Será que levamos realmente a sério a questão não roubar, ou simplesmente fingimos saber que não roubamos.
Na adolescência quem já não pagou uma conta errada? Quem hoje mesmo não copia um cd de música ou faz cópia de um livro? Quem realmente dá crédito daquilo que ensina para seus professores? Quem já não “roubou” um dinheirinho da carteira da mãe (minha mãe falava que não era pecado! E eu e os meus irmãos acabávamos nem pegando mesmo, pois era permitido pegar, quando necessário).
Quem já não usou fotos, poesias, músicas, idéias, nome, autoridade, ideais de outras pessoas? Aqui não estou julgando, mas trazendo um questionamento. Lembre-se que quando eu aponto um dedo para julgar a outra pessoa, três dedos ficam apontados para mim.
O fato é acabamos roubando sim, e roubamos sem querer, roubamos principalmente tempo e energia de outras pessoas. Eu mesma acabei entregando este texto atrasado!
E por falar em atraso. Você chega no horário em seus compromissos? Chegar atrasado é roubar o tempo da outra pessoa, que deixou de fazer outras coisas para chegar na hora e encontrar você.
Observe você. Em seu currículo de Yoga, estão os nomes de todos os professores que lhe ensinaram? Com a experiência de ministrar curso de formação e cursos de aperfeiçoamento em Yoga, já vi muitos alunos se esbaldando em aprender e de ensinar o que aprendeu comigo e no final colocando no seu currículo apenas nomes “mais importantes” que o meu. Acredito que seja sem perceber. E é esse o ponto importante que trago neste texto, percebemos como roubo algo muito distante de nós. Afinal não é fácil abrir mão daquele cd pirata, de copiar um livro ou de pegar uma idéia brilhante de alguém. Por fim, acabamos arrumando desculpas para satisfazer nossos desejos. Para realmente conseguir seguir asteya é importante que tenhamos um sentimento de suficiente.
Um passo muito importante para conquistar este princípio de asteya é a observância, constante e diária, e é imprescindível que você se olhe de frente. Por isso, aqui sugiro um exercício durante um mês. Coloco um mês, pois de acordo com meu amigo David Lurey um hábito só se torna um hábito quando é repetido durante um mês, diariamente.
Repita estas perguntas diariamente:
• Tenho feito proveito somente do que é meu?
• Estou utilizando algo de alguém sem permissão?
• Sou honesto com os ensinamentos que recebi dos meus professores?
• Minhas idéias são realmente minhas?
• Respeito a energia e o tempo das outras pessoas?
• Como posso melhorar?
A tarefa não é fácil, pois fazendo esses questionamentos teremos que deixar velhos hábitos para trás.
Bem, ao me observar sinto um peso em perceber que tenho sim roubado tempo da editora do eyoga.com.br e também dos leitores da coluna Vida de Yoga. Me dou conta que acabo sempre entregando o texto com alguns dias de atraso. Prometo não atrasar no próximo texto!
Camila Reitz pratica Yoga há 15 anos, estudou no Brasil, Índia, Estados Unidos e Austrália, é diretora do Yogashala em Florianópolis onde ministra curso de formação para professores de Yoga.
www.devi.com.br/formacao
Comentários