Yoga e o controle do peso

Por: Dr. José Ruguê

O Yoga complementa o tratamento ayurvédico à obesidade
 

Vocês sabem que Yoga e Ayurveda são duas ciências irmãs. Na verdade, as duas são ciência única – Sanatana Dharma. Não há como abordar o Yoga como método terapêutico sem o Ayurveda. A visão da fisiologia e da fisiopatologia (entendimento do funcionamento do organismo no processo da doença), os métodos diagnósticos e o entendimento dos componentes do Yoga como métodos terapêuticos só têm sentido e coerência dentro do contexto do Ayurveda, ou eles se restringiriam a métodos de fisioterapia e fragmentos de esoterismo new age. Grande parte das pessoas com sobrepeso retorna ao peso adequado e a uma vida saudável se um programa diário de Yoga for seguido com determinação.

O problema é que a pessoa com sobrepeso, devido ao excesso de kapha e de vata, necessita de inspiração e força de vontade. Essa pessoa precisa ser mantida fora do hábito e do condicionamento de compensação emocional na comida e redirecionar sua energia para a saúde e saídas mais criativas para suas necessidades emocionais. As práticas de Yoga propiciam excelentes meios para auxiliar neste objetivo. As pessoas com predomínio de pitta em sua constituição, que tenham padrões rajásicos, agressivos e comem excessivamente se beneficiam muito do Yoganidra. Geralmente, essas pessoas sentam à mesa tensas, preocupadas e comem demasiada e mecanicamente uma enorme quantidade de comida, sem realmente desfrutar, relaxar. Elas devem aprender a relaxar por dez minutos em savasana antes de cada refeição, muitas vezes ainda no escritório, antes de irem ao restaurante. Enquanto comem, devem manter um processo de autoconsciência. Isso ajuda enormemente. Por exemplo, seguir o princípio ayurvédico de que a pessoa deve ocupar metade do estômago com alimento, ¼ com líquidos e ¼ deixar vazio. Ir procurando sentir o estômago enquanto se alimenta. Associar a ideia de que cada porção da refeição que entra por sua boca está alimentando agni, a poderosa divindade personificada pelo fogo digestivo: “Eu alimento agni. Isto é para agni. Esta é a boca de agni”, no mesmo belo princípio que norteia a cerimônia do fogo – havan –, base das práticas do hinduísmo.

Por outro lado, aquele que tem uma constituição com predomínio kapha e que esteja mais lento, com certo grau de depressão, mas que encontra consolo emocional nos alimentos, deve ser iniciado em Karma Yoga, buscando conhecer profundamente os ensinamentos de Shri Krishna, descritos na Gita, de como atuar sem apego ao fruto da ação, os segredos da ação, de acordo com a maravilhosa definição de Bhagavan Shri Krishna de Yoga: Yogaha karmasu koushalam – Yoga é maestria nas ações. Da mesma forma, essa pessoa deve buscar outras maneiras agradáveis de autoexpressão que a deixem fora da cozinha, fora de casa, longe da constante tentação do alimento e com atividades mais estimulantes e úteis. Com outros focos prazerosos de interesse, a comida deixa de ser o centro. Asanas são essenciais para remover os bloqueios, liberar prana, revitalizar a mente e ativar o sistema endócrino. Essas pessoas devem ser incentivadas a praticar até o seu limite, porém sem chegar à exaustão. Elas não devem tentar transpirar todos os seus quilos em excesso! A prática deve ser feita de forma agradável, relaxante e com consciência. Em geral, os kapha não têm muita persistência com essas práticas. Portanto, devem se tornar agradáveis.

Os asanas devem estimular a vitalidade lentamente. A abordagem do processo do Yoga para a redução de peso é diferente dos programas de ginástica. Ela visa o reequilíbrio neuroendócrino e o fluxo de prana. Um ótimo programa inclui séries de pavanmuktasana seguidas de surya namaskar. Depois de alguns meses, os asanas e sequências principais, úteis para o equilíbrio endócrino e a coluna vertebral, já podem ser seguidos.

Pranayamas: nadi shodhana, principalmente com surya bhedhana, são úteis para incrementar a energia vital, reduzida nessas pessoas. Kapalabhati e bhastrika incrementam o metabolismo e devem ser realizados diariamente.

Shatkarma: neti deve ser realizado diariamente. Vamana dhauthi ou kunjal kriya podem ser praticados uma vez por semana durante um programa de redução de peso e, depois de atingido o peso adequado, uma vez por mês. Shankprakshalana, chamado purna ou completo, deve ser realizado somente com um professor experiente e em local adequado, como um ashram. Mas a forma laghu, mais suave, pode ser feita uma vez por semana.

Esses processos estimulam o sistema digestivo, fígado e pâncreas enfraquecidos. Como resultado, as pessoas com agravação crônica de kapha sentirão uma leveza física e mental há longo tempo esquecida, aumento da energia vital e clareza mental. Um experiente professor de Yoga que também seja terapeuta ayurvédico terá todas as ferramentas para indicar quais e em que intensidade realizar os shatkarmas e/oupanchakarmas mais adequados para cada pessoa.

Relaxamento: Yoganidra é essencial todos os dias. Um sankalpa (motivação, resolução) negativo diante da vida é um dos centros do problema do sobrepeso. Sankalpas positivos como: “Minha vitalidade está aumentando diariamente” ou “Minha energia criativa está sendo liberada do alimento mais e mais a cada dia” são ferramentas poderosas para mudar o estilo de vida, levando ao sucesso do tratamento do sobrepeso. Enfim, a abordagem associada do Yoga e do Ayurveda contém ferramentas poderosas para lidar com todos os aspectos do complexo problema da obesidade e suas complicações, mas, essencialmente, com a raiz dos problemas humanos, ou seja, o desconhecimento de nossa real natureza e a consequente identificação com os pensamentos, sentimentos, emoções e corpos, levando ao apego e à aversão e, como consequência, à frustração e à ansiedade. Que essa ciência possa ser conhecida e praticada por todos!
Dr. José Ruguê Ribeiro Jr. é médico com especialização em Ayurveda, um dos profissionais da área mais respeitados no Brasil e na Índia, onde recebeu o título de Swami Narayanananda. www.suddha.org/blog