AME-SE SEMPRE.



Por: Greice Costa

Ideias para reconhecer o seu eu na multidão de estímulos e padrões deste mundo. E fazer as pazes com a autoestima.


Colaborou Thays Biasetti
Ilustrações: Tracy Walker

É tanta informação e tão pouco espaço para criar nosso próprio estilo de vida, de corpo, de pensamento… Essa paisagem dificulta a tarefa de reconhecer o comportamento e a rotina que não estão em revistas ou seriados da TV, de enxergar a beleza que não está refletida nas imagens ditadoras da estética impossível, de amar o que a gente é. Vivemos na era da baixa autoestima que usa o consumo como pílula de farinha. Aqui, estudiosos de corpo, mente, alma e sociedade sugerem caminhos para transcender esses percalços e chegar ao seu amor.


Mas o que é autoestima?
Marcos Rojo
Temos problemas com a autoestima porque não sabemos bem o que é isso. Não é uma questão de vestir uma camiseta escrita “eu me amo”, como já cansei de ver por aí, e achar que estamos bem conosco mesmos.

A mídia gera um conceito equivocado do que seja autoestima. Grande parte da população confunde autoestima com vaidade. Algumas pessoas dizem que aumentam sua autoestima quando são elogiadas com relação à estética.
Mas vai além disso. Imagine que você ao sair de casa encontra uma pessoa muito querida e só tem dez minutos para conversar com ela. Como são esses dez minutos? Passam rápido ou devagar? Por outro lado, imagine que você, ao sair de casa, encontra aquele que denominamos o chato do bairro.

Em geral este é aquele que só fala de si e dos seus problemas. Como são os dez minutos que você acaba passando com ele? Passam rápido ou devagar?

Agora eu pergunto: Como são os dez minutos que você passa consigo mesmo na sua prática de meditação? Passam rápido ou devagar?

Quando gostamos de uma pessoa, não vemos o tempo passar quando estamos com ela.

Não se culpe caso não tenha paciência para ficar consigo mesmo por dez minutos, isso pode ser trabalhado com a prática de Yoga. O Yoga estimula esse constante diálogo entre o corpo e a mente. O Yoga é uma forma de você cuidar de si mesmo com muito carinho.

Para que alguém goste de alguém, é preciso demonstrar cuidado, atenção e promover o bem-estar no outro, e isso não é diferente conosco.

Se eu poderia indicar alguma prática específica para nutrir o nosso amor próprio? Desculpe, não sou a favor de dividir a prática em benefícios específicos. Minha sugestão para melhorar a autoestima é praticar Yoga.
Marcos Rojo é Ph.D em Ciências do Yoga, professor da USP e de seu espaço em São Paulo. www.marcosrojo.com.br



Autocompaixão é o caminho
Kelly Mcgonigal

Uma das mensagens de um dos textos seminais de Yoga, o Yoga Sutra de Patañjali, é que a autotransformação não acontece de um dia para o outro, mas você pode superar padrões negativos dando um passo de cada vez. Se você é gentil consigo mesmo e aceita as suas fraquezas com compaixão, pode mudar sua vida para melhor. Kristin Neff, professora da Universidade do Texas, é uma das maiores pesquisadoras do mundo sobre o assunto. Suas novas pesquisas científicas dão crédito a essa sabedoria ancestral e mostram que, se for para fazer uma mudança, a autocompaixão é a sua maior fonte de força. Então, se você quer mudar um comportamento (como comer demais ou perder a paciência com os filhos) e se comprometer com uma atitude positiva (como meditar todos os dias), a melhor abordagem é cultivar a compaixão e tocar em seu poder de maneira que consiga construir uma vida melhor. “Ter autocompaixão vai além da autoaceitação. Tem um elemento ativo de se cuidar, de querer o melhor para si”, explica Neff.
Se ser duro consigo é contraprodutivo, por que você faz isso?

Um princípio fundamental do Yoga é que, no fundo, você já é perfeito. Patañjali diz que a mente é como um diamante. “Com o passar dos anos, o brilhante vai se cobrindo de pensamentos e experiências que temos e perdemos contato com esse brilho interior – a luz do Eu interior”, explica a professora norte-americana Kate Holcombe, uma das mais reconhecidas alunas do mestre indiano T. K. V. Desikachar. Yoga é o processo de limpar a mente e qualquer coisa que obstrua a luz interior, que é a sua parte que não precisa ser consertada, controlada ou aperfeiçoada. Quando você pensa em mudar um padrão que não lhe serve mais (limpar a poeira da mente que bloqueia o seu Eu), a prática o ajuda a ver seu comportamento negativo de um ponto de vista mais compassivo.

Há uma forte crença de que precisamos de autocrítica para nos motivar. Isso, diz Neff, reflete um engano fundamental sobre o que é a autocompaixão. Ser gentil e se dar apoio enquanto confronta fraquezas pessoais e desafios traz melhores resultados do que tentar se motivar com raiva ou rejeição. Em um conjunto de cinco estudos que ela e colegas publicaram no Journal of Personality and Social Psychology em 2007, os participantes tiveram de falar sobre fraquezas reais, lembradas e imaginadas. Em todos os cenários, os participantes que colocaram um grau elevado na escala de autocompaixão de Neff ficaram menos chateados pelas falhas e menos propensos a se tornar obsessivos por elas. Também eram menos defensivos e mais abertos a assumir a responsabilidade pelos resultados.

A pesquisa ainda revelou que pessoas duras consigo mesmas são menos positivas após um contratempo e mais vulneráveis à ansiedade e à depressão. Quando você é autocrítico, trata-se de um jeito que nunca trataria alguém que ama: punindo-se por qualquer imperfeição e desanimando-se por não conseguir o que quer.

A autocompaixão oferece o ambiente de apoio emocional necessário para a mudança. Ela diz que sem a culpa e a falta de autoconfiança, você consegue se ver mais claramente, fazer escolhas conscientes e dar os passos adequados para o momento.

Enquanto o objetivo final do Yoga é viver em sua verdadeira natureza, que é livre de sofrimento, chegar a esse ponto é – como Patañjali indica – uma longa jornada.

A Bhagavad Gita, uma das mais importantes escrituras sagradas do Yoga, ensina como manter-se fiel à sua resolução mesmo quando seus esforços são menos do que perfeitos. Arjuna, o personagem principal, é tomado por culpa e confusão às vésperas de uma batalha e chama o deus Krishna. No diálogo épico que segue, Krishna diz a Arjuna que ele pode recuperar sua autoconfiança ao fazer o que tem de ser feito. Ele diz: “Ações nascidas da natureza de alguém, mesmo quando contêm falhas, não devem ser rejeitadas. Todos os empreendimentos são cobertos por alguma falha, assim como o fogo é coberto por fumaça”.

A mensagem é que quando você se dedica às ações que faz, você é naturalmente mais tolerante às imperfeições. A compaixão, nesse contexto, não é só uma estratégia psicológica, mas um resultado natural de lutar para conhecer o seu Eu superior.

Como Holcombe diz: “Cada um de nós possui uma fonte interna de sabedoria e força, um lugar de paz profunda e alívio, alegria e luz. Quando estamos conectados com esse lugar, não há dúvidas. Sabemos de nossa essência, quem somos e o que fazer”. O Yoga o ajuda a chegar lá. E ser gentil com você mesmo também.
Kelly McConigal é PhD, psicóloga e professora de Yoga nos EUA



Muito além da autoimagem
Yogini Shambhavi

Muitos de nós estamos perdendo nossa autoestima. Temos uma autoimagem pobre e pensamos que somos de alguma maneira indignos ou desprezíveis. Parte disso acontece porque vivemos em um mundo de imagens da mídia que parecem perfeitas ou pelo menos bonitas. Ficamos muito presos à nossa autoimagem e perdemos a trilha para a nossa autoessência, que está além das compulsões externas. Nossa autoimagem não é quem nós realmente somos, mas como os outros nos veem, o que deve permanecer externo, limitado. Essa mídia representa uma tentativa de nos controlar. É um poder de maya, ou ilusão. Ela se baseia em produzir imagens nas quais é fácil acreditar, como atores, atrizes ou corpos retocados que não correspondem a nenhuma pessoa real. Isso faz que percamos ideia do nosso próprio ser e paremos de viver nossas próprias vidas. Estamos nos tornando espectadores, sem experimentar a vida diretamente. Passamos a maior parte do tempo olhando para as imagens da mídia e nos esquecemos de observar nossos próprios pensamentos ou a natureza. Podemos usar a mídia para receber informações, mas quando damos mais atenção à mídia do que às nossas vidas, caímos em desequilíbrio facilmente.

A economia pode ajudar a confundirmos status financeiro com o nosso real valor. Já trabalhei com muitas pessoas ricas e influentes e de maneira nenhuma elas são mais felizes ou inteligentes, criativas ou espirituais que as outras. A riqueza real consiste em estar consciente da natureza sagrada de toda a vida. Tudo o que temos é emprestado e será tomado de volta pelo movimento natural do tempo.

Quanto a cultivar a autoestima, não é uma questão de nos amar, mas de nos abrir para a presença do amor universal. Amor-próprio não é amor ao ego ou narcisismo. É simplesmente estar feliz consigo, repousar na verdadeira natureza em vez de ficar nas opiniões, julgamentos e expectativas do outro. Não é uma questão de reconstruir o amor-próprio, mas de deixar sair o que não está em harmonia com a grande realidade do amor. Se você está disposto a dar amor, sempre o terá. Se você está sempre procurando por amor, nunca conseguirá tê-lo. Isso sempre vai iludi-lo. O problema é que confundimos amor com ser amado ou até com ter pessoas nos desejando, o que nos compele a tentar parecer bonitos aos olhos dos outros. O amor é tudo o que existe, como aquela velha canção diz: “Love is all there is”.

Na prática
Para nos abrir ao poder do amor universal, podemos usar o mantra KLIM. É o mantra do amor divino, da atração e da satisfação de nossa sabedoria mais profunda. Sempre que nos sentimos insuficientes ou desejosos, podemos repetir esse mantra 108 vezes focando no coração.
Yogini Shambhavi é professora de aspectos profundos do Yoga. Ministra cursos com David Frawley pelo mundo. www.shambhavi-yogini.com



Meditar e se amar
Juliana Vilarinho

Na prática de meditação Raja Yoga somos inspirados a fazer pausas de um minuto a cada uma hora. Este projeto é internacionalmente conhecido como Just a Minute (há um site disponível em inglês). Neste um minuto a meta é perceber o estado interno – mente, pensamentos, sentimentos. E se algum sentimento estiver desalinhado, soltar a energia de desperdício e redirecionar o foco da atenção para a experiência de paz, amor, força interior, felicidade, harmonia, verdade e pureza, que são as qualidades inatas de cada ser. É como uma respiração sutil – solto as toxinas, as negatividades, inspiro positividade (qualidades inatas). Estabilizo neste estado e então retorno ao campo da ação. A base da meditação é experimentar a essência plena, original e amorosa de todos os seres humanos, que prevalece independentemente de seu estado atual. É certo que se há menos ferrugem acumulada nesse processo fica mais fácil perceber nossa beleza interior intrínseca e sempre disponível.
Juliana Vilarinho, professora da Brahma Kumaris www.bkumaris.org.br



Para praticar
Mike Martins

De olhos abertos ou fechados, comece a lembrar de momentos em que você sentiu amor em sua vida: veja o que você viu... escute o que você escutou... sinta o que você sentiu. Perceba como você se sente em reviver esses momentos no presente. Quando estiver sentindo o que é amor para você, faça um movimento com o corpo. Repita a prática quantas vezes desejar, com a mesma memória ou com outras, lembrando sempre, automaticamente, de fazer o mesmo movimento com o corpo.
Na próxima vez que quiser sentir o amor, movimente o seu corpo na posição que simboliza amor para você.

A mente não sabe a diferença da realidade para a imaginação. O que você pensa, você sente.
Mike Martins é especialista em PNL e diretor-executivo do Idep (www.institutoidep.com.br)
 


A Garota da Foto
Kathy Lobos, professora de Vinyasa Flow

A minha autoestima é estável, mas aceito quando não está em alta. Aprendi com o tempo que estima é a forma como você se vê e como valoriza as suas virtudes, não apenas a aparência física. Lembro-me de ter tido problemas com o amor próprio durante uma crise em meu casamento. É um momento em que talvez você não consiga se enxergar pois está tentando fazer os outros felizes (filho e marido), anulando as suas vontades, postergando seus sonhos, deixando de pulsar. A energia fica estagnada, até se dar o primeiro passo: pensar em você. Mas eu já fazia Yoga na época, e foi por isso que consegui reconectar com meu verdadeiro eu, percebendo que aquele momento da minha prática era só meu. Aquilo me fazia profundamente feliz. Comecei então a aumentar a quantidade de momentos felizes. Fiz mais cursos, viajei, conheci pessoas inspiradoras. O meu biotipo não é o “padrão yogi comercial”, sempre fui grandona e isso não me impediu de ser praticante e logo, de ser professora, inclusive em uma academia. Mas não nego que que a minha aparência física despertava certa desconfiança de alunos e até de amigos yogis (“Nossa! Ela pratica Yoga e é gordinha?”, “Essa é a professora?”, “Será que ela consegue fazer as posturas?”). Mas como eu conhecia o meu potencial, a minha devoção, a minha alimentação, pensava: O que importa é que amo o que faço, me dedico ao Yoga e aos alunos.

Para manter a saúde e a autoestima, pratico Vinyasa Flow e procuro fazer cursos para mergulhar nessa experiência com o meu corpo. Gosto também de fazer trilhas na natureza. Resolvi participar de provas de corrida de rua, pois além de serem divertidas e emagrecer, produzem uma sensação vitoriosa de que apesar da dificuldade, do cansaço e da dor, você é capaz de chegar ao fim e vai se sentir muito melhor quando terminar. Organizei também a minha alimentação que é cem por cento vegetariana há mais de 15 anos, com a ajuda do meu endocrinologista. Arrumei um tempo para me dedicar só a mim e isso foi refletido na minha imagem.

Minha sugestão para você ficar de bem consigo é que cante, dance e medite em imagens positivas, de deusas que tragam beleza e prosperidade e busque se conectar com essa energia criativa, a shakti que existe dentro de cada um de nós e que se manifesta por meio da expressão corporal, dos movimentos , do olhar, do toque, da voz… Tudo isso encanta, não precisa ser externamente perfeito – a sua alegria é o que transforma tudo em belo. Acho a deusa Lakshmi o melhor exemplo de toda essa beleza!
 

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