Entre no Eixo


Por: Madu Cabral


O Yoga te ajuda manter sua coluna saudável. Pode ser o alívio para quem sofre de desvios e o equilíbrio para quem busca o seu centro




Por Madu Cabral

Chamada de MERUDANDA (bastão do monte Meru, considerado o centro do mundo) ou brahmadanda (bastão de Brahma), a coluna vertebral é o principal foco físico das práticas de asanas. Ela serve para sustentar e dar mobilidade ao tronco, além de proteger a medula espinhal. Todas as ramifi cações nervosas passam pela medula e mandam os comandos do cérebro a todos os órgãos. Se essa comunicação não for livre, os órgãos não funcionarão corretamente. Como uma mangueira de jardim que tem um nó. Segundo artigo publicado na nona edição dos Cadernos de Yoga, a Dra. Mary Pullig Schatz, antiga aluna de B.K.S. Iyengar, explica que “a espinha é o marco da estrutura na qual estão unidos os órgãos e os membros. Qualquer desvio habitual da coluna, persistentemente mantido, tem efeito prejudicial não só para os ossos e articulações, como também afeta o espaço disponível para os órgãos internos, pois o sangue fresco não pode entrar livremente em um órgão que está sempre comprimido”.

Segundo o fi sioterapeuta e professor de Yoga André Tannus, “todas as funções do corpo humano percorrem a coluna. Tudo que se pensa e sente também”. Ele explica que pela observação da coluna é possível detectar posições e retrações de tecidos especiais que denunciam, por exemplo, uma má respiração, dores ou pequenas disfunções decorrentes de um dia-a-dia atribulado. A coluna também é parte essencial do corpo sutil. A sushumna nadi, principal canal por onde fl ui a energia do corpo, passa pela coluna. É por esse canal que passa a kundalini quando desperta durante a iluminação, o objetivo do Yoga. Além disso, nossos sete principais chakras estão localizados na linha da coluna. Uma coluna saudável é essencial para o fluxo correto de energia.

Difícil achar hoje alguém que não tenha e nem nunca tenha tido dor nas costas. Segundo o ortopedista e praticante de Yoga Dr. Fábio Caporrino, “a dor nas costas apresenta alta prevalência, sendo sobrepujada somente pelo resfriado comum. Ela ocorre em 80% das pessoas em algum período de suas vidas”. Ele ainda explica que as causas são normalmente mecânicas e posturais, “comemos mal e estamos cada vez mais pesados. Sentamos de maneira errada e por muitas horas, estamos cada vez mais sedentários e às vezes praticamos atividades físicas sem um mínimo de orientação dos médicos e educadores físicos. Dormimos em posição inadequada, trabalhamos muitas horas e ficamos cada dia mais ansiosos”.

Os problemas podem ser de origem idiopática (a coluna apresenta um problema apesar de ser saudável) ou por defeitos estruturais. O Yoga é mais eficaz nos casos de patologias idiopáticas, apesar de aliviar os sintomas dos defeitos estruturais também. Segundo o professor chileno Gustavo Ponce, autor do livro Dynamic Yoga e outros, a má postura e a vida sedentária são as grandes causadoras de problemas na coluna. Outro motivo apontado por André e por Gustavo para as dores é a falta de conhecimento do próprio corpo. “Má postura, baixa consciência postural, uso inadequado da biomecânica, movimentos repetitivos, tudo isso pode causar desvios na coluna”, explica André.

Gustavo Ponce acrescenta que a vida moderna fez com que o mecanismo que sustenta nossos corpos perfeitamente equilibrados tenha começado a desmoronar aos poucos. Um ombro esquerdo mais elevado do que o direito ou um quadril desalinhado é um exemplo claro de desequilíbrio, de mau funcionamento do corpo, pela simples razão de que o ombro esquerdo deve agir da mesma forma que o direito, pois eles trabalham de maneira idêntica. O mesmo acontece com joelhos e tornozelos. Todos eles trabalham juntos, pois o corpo é simétrico.

Cigarro até na espinha
Segundo a médica ayurvédica Dra. Brenda Kalil, quem fuma tem mais problemas na coluna, pois o cigarro propicia ou desencadeia mais distúrbios vata, e a dor é um deles. A medicina tradicional ocidental provou que o fumo gera, entre outros problemas, o endurecimento de artérias e veias, e isso ocasiona uma má nutrição tecidual. Portanto, é fisiologia pura, não só mais dores como uma centena de outros problemas.

“Nosso corpo é a casa que guarda as lembranças mais esquecidas, mais rejeitadas, os sentimentos e emoções mais ocultos, mais reprimidos. Guardamos tudo isso nos músculos, nas distensões, nas fraquezas, nas dores, no pescoço, nas pernas, no rosto... Aqui, no meu corpo todo, guardo minha história desde o nascimento até hoje”
Dr. Alexander Lowen, percussor da análise bioenergética.

O caminho do equilíbrio
A prática de Yoga pode auxiliar na cura ou pelo menos no alívio dos sintomas das principais deficiências da coluna. Os alongamentos promovidos pelos asanas ajudam a “consertar” a coluna. “Por meio da educação do nosso corpo, dos asanas, um mau hábito de postura pode ser corrigido”, explica Mary Pullig Schatz. Em muitos casos de dor, o calor pode trazer relaxamento muscular e alívio. Para aquecer o corpo, as melhores posturas são as hiperextensões (conhecidas também como retroflexões ou backbends, que estimulam os rins) e as inversões. Use props em caso de impossibilidade de fazer alguma postura. Para os que não conseguem fazer nenhuma postura durante a fase aguda do problema, o ujjayi pranayama (respiração vigorosa que produz um som pela contração da glote) pode promover esse aquecimento.

Os dois lados
Mas o Yoga também pode ser perigoso quando praticado com pressa ou falta de atenção em si mesmo e ao seu centro. Dr. Fábio explica que “qualquer atividade, incluindo Hatha Yoga, pode causar distúrbios na coluna quando mal realizada. Até mesmo dirigir em posição inadequada. Se você tem dor em determinada parte do corpo quando realiza uma atividade, seu organismo está avisando que algo está errado. Portanto, devemos parar e refletir o que estamos fazendo e como estamos fazendo.” Muitos praticantes de Yoga, mesmos os mais avançados, sofrem de dores nas costas. André Tannus diz ainda que a suavidade da prática deve ser guiada pela firmeza de propósitos e escolhas. “A cura e a prevenção está no conhecimento de si próprio e de seus limites, sem se machucar”.

Problemas?
O doutor em ortopedia, assistente da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior e da traumatologia do esporte (Cete) da uniFeSP – ePM e praticante de Yoga – Dr. Fábio Caporrino dá dicas a quem tem problemas na coluna.

Como a ortopedia e o yoga podem trabalhar juntos?
Acredito que possamos ajudar o paciente com problemas ortopédicos de várias maneiras, isto é, com exames subsidiários, medicamentos, fisioterapia, reeducação postural, acupuntura e cirurgias. Para isso é sempre necessário um diagnóstico preciso realizado pelo ortopedista que vai dirigir o tratamento, orientando o paciente para qual tipo de caminho seguir, utilizando um tipo de terapia ou uma combinação delas. o Yoga pode ajudar na recuperação dos movimentos, na melhoria da fl exibilidade e da força muscular, minimizando posições viciosas, melhorando a consciência corporal, diminuindo dores e a ansiedade. Para isso, é necessário que o professor de Yoga entenda o que está se passando com seu aluno por meio da orientação do ortopedista.

Como o yoga pode prejudicar quem tem problemas na coluna? 
Não o Yoga, mas a falta de informação pode prejudicar o praticante. Dependendo do problema na coluna, o aluno poderá ou não realizar determinadas atividades dentro do Yoga. e algumas delas poderão ser adaptadas em benefício de quem as estiver praticando. Por isso, volto a enfatizar a necessidade do diagnóstico ortopédico preciso e do intercâmbio de informações entre o médico e o instrutor.

Qual a efi cácia do yoga ou fisioterapia em problemas congênitos?
Alguns problemas como escolioses por defeitos vertebrais ou fusões ósseas da infância e adolescência continuam a progredir apesar do tratamento com coletes e fi sioterapia, sendo necessária a intervenção cirúrgica. nesses casos, o Yoga poderia atuar não para segurar a progressão da deformidade, mas para minimizar a dor, se houver, e melhorar o padrão respiratório do paciente.

O yoga pode substituir a fisioterapia em casos mais simples? 
Creio na somatória de atividades benéficas para a melhoria de determinado distúrbio e não na substituição de uma pela outra. Dois tipos de atividade executadas de maneira diferente, mas com a mesma finalidade podem fazer com que o paciente evolua mais rapidamente para o alívio do problema em questão.

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