Dharamsala, refúgio dos tibetanos
JORNADA
Laura Packer conta de seu encontro com o Dalai Lama em momento histórico
Laura Packer conta de seu encontro com o Dalai Lama em momento histórico
Índia, um país de surpresas, encantos, contrastes. Ou você a ama ou a odeia, porém jamais a esquece. Minha primeira experiência na Índia foi em 1990, quando a globalização não era o foco mundial. Hoje na minha sexta imersão nesta terra considerada sagrada para os hindus, muita coisa tem mudado. O mundo ocidental já se faz presente entre as inusitadas imagens do cotidiano.
Os indianos são um povo tranquilo e solícito, que vive na expressão daquilo que é sagrado. Inúmeros deuses expressam a espiritualidade que se respira no ar. Cada passo, entre a enorme população de mais de 1 bilhão de habitantes, nos leva a compreender que a vida está além da experiência material. A espiritualidade se contempla nos gestos, nas saudações com as mãos unidas a frente do peito, dizendo namastê (o divino em mim saúda o divino em você), nos rituais de oferenda aos deuses (já que todo lugar é lugar para agradecer as bênçãos recebidas ou para pedir um dia auspicioso); nos incontáveis templos hindus, mesquitas, stupas (budistas) e locais de adorações.
Um mundo onde a realidade espiritual se mistura com o material, onde suas crenças (inúmeras religiões), suas línguas (aproximadamente 1.570 línguas e dialetos), seus costumes (que se diferem enormemente de norte ao sul), suas cores (vistas nos lindos saris coloridos) refletem o poder de um povo que tem buscado na vivência interna a força para superar as inúmeras dificuldades externas. Um mundo onde o místico e o belo se encontram para mostrar que é possível ser feliz.
Nesta minha última experiência na Índia, em 2009, pude vivenciar dias muito auspiciosos com o Swami Dayananda Sarasvati, em Rishikesh, durante um curso de Vedanta Dindimah, que ocorreu durante oito dias em seu ashram às margens do sagrado Ganges.
Logo após este curso participei do Internacional Yoga Festival – realizado em Rishikesh em março, no Parmarth Niketan Ashram. Para minha surpresa, entre os mestres espirituais, swamis, professores eyogacharyas estava o Swami Yoganandaji com 99 anos de idade. Ele nasceu em 1909 em Madhya Pradesh e começou o seu caminho no Yoga quando tinha 17 anos. Ele tem praticado Sukshma Vyayam Yoga desde 1948 e atribui sua excelente saúde à eficácia desta prática de Yoga. Ele é um exemplo vivo dos benefícios da prática regular de Yoga e mesmo com esta idade, todas as suas faculdades estão funcionando perfeitamente e sua flexibilidade e postura física são invejáveis.
Após o Congresso de Yoga em Rishikesh, me aventurei ir até Dharamsala de táxi. Foram 14 horas de viagem e como tudo na Índia, as surpresas sempre ocorrem.
Dharamshla é uma cidade localizada no norte da Índia, sede do governo tibetano do exílio, onde o Dalai Lama viveu por 50 anos exilado. Cheguei em Dharamshala 8 de março para participar de um dia de ensinamento que o Dalai Lama iria proferir no dia 11 de março. No dia seguinte, segui em direção ao mosteiro dele e encontrei centenas de tibetanos e devotos de toda parte do mundo ouvindo os cantos tibetanos. Entrei então no meio da multidão e, de repente, vi o Dalai Lama a menos de 50 metros de distância. Foi muito emocionante poder diante da Sua Santidade e de centenas de monges.
Soube, então, que o dia 10 de março é o dia mais importante para os tibetanos: o Dia da Revolta Nacional Tibetana, em que o Dalai Lama discursaria e, após o discurso milhares de tibetanos e simpatizantes pela causa “Free Tibet”, sairia em passeata pela cidade de Dharamshala.
Na manhã seguinte estava eu, com uma bandeira tibetana nas mãos, junto de milhares de irmãos vibrando pela causa “ Free Tibet”.
Reunimos-nos no mosteiro do Dalai Lama para ouvi-lo.
Durante o discurso, o Dalai Lama lamentou que seu povo tenha "experimentado o inferno na terra" nos 50 anos de ocupação chinesa. Também comentou a "série de campanhas repressivas e violentas" que a China aplicou no Tibete e cujo resultado, disse, "foi a morte de centenas de milhares de tibetanos".
Falando para 10 mil tibetanos do mundo todo, o líder espiritual budista criticou a China por provocar "sofrimento e destruição indizíveis", os quais "lançaram os tibetanos em tais profundezas de sofrimento e dificuldades".
Participar deste momento histórico foi muito forte para mim, pois pude sentir mais de perto o povo tibetano e toda a sua angústia e sofrimento. A maioria dos tibetanos que vive em Dharamshala fugiu do Tibete, tendo que atravessar toda a cordilheira do Himalaia, numa caminhada de 26 a 30 dias nas montanhas geladas do topo do mundo. Os mais jovens já nasceram em Dharamshala sem nunca poder conhecer o Tibete.
Eles contam com o apoio das mentes sensíveis em todo o mundo para ajudá-los nesta grande causa que é o “Free Tibet”. Agradeço por esta oportunidade de estar mais uma vez no solo sagrado da Índia, onde tenho adquirido tanto conhecimento espiritual para poder seguir o caminho do Yoga com mais firmeza e determinação.
Maria Laura Garcia Packer é professora de Yoga há 20 anos, fundadora da Casa de Yoga Shanti Om e autora do livro Vegetarianismo Sustentando a Vida (Ed. Letra d´Água).
Os indianos são um povo tranquilo e solícito, que vive na expressão daquilo que é sagrado. Inúmeros deuses expressam a espiritualidade que se respira no ar. Cada passo, entre a enorme população de mais de 1 bilhão de habitantes, nos leva a compreender que a vida está além da experiência material. A espiritualidade se contempla nos gestos, nas saudações com as mãos unidas a frente do peito, dizendo namastê (o divino em mim saúda o divino em você), nos rituais de oferenda aos deuses (já que todo lugar é lugar para agradecer as bênçãos recebidas ou para pedir um dia auspicioso); nos incontáveis templos hindus, mesquitas, stupas (budistas) e locais de adorações.
Um mundo onde a realidade espiritual se mistura com o material, onde suas crenças (inúmeras religiões), suas línguas (aproximadamente 1.570 línguas e dialetos), seus costumes (que se diferem enormemente de norte ao sul), suas cores (vistas nos lindos saris coloridos) refletem o poder de um povo que tem buscado na vivência interna a força para superar as inúmeras dificuldades externas. Um mundo onde o místico e o belo se encontram para mostrar que é possível ser feliz.
Nesta minha última experiência na Índia, em 2009, pude vivenciar dias muito auspiciosos com o Swami Dayananda Sarasvati, em Rishikesh, durante um curso de Vedanta Dindimah, que ocorreu durante oito dias em seu ashram às margens do sagrado Ganges.
Logo após este curso participei do Internacional Yoga Festival – realizado em Rishikesh em março, no Parmarth Niketan Ashram. Para minha surpresa, entre os mestres espirituais, swamis, professores eyogacharyas estava o Swami Yoganandaji com 99 anos de idade. Ele nasceu em 1909 em Madhya Pradesh e começou o seu caminho no Yoga quando tinha 17 anos. Ele tem praticado Sukshma Vyayam Yoga desde 1948 e atribui sua excelente saúde à eficácia desta prática de Yoga. Ele é um exemplo vivo dos benefícios da prática regular de Yoga e mesmo com esta idade, todas as suas faculdades estão funcionando perfeitamente e sua flexibilidade e postura física são invejáveis.
Após o Congresso de Yoga em Rishikesh, me aventurei ir até Dharamsala de táxi. Foram 14 horas de viagem e como tudo na Índia, as surpresas sempre ocorrem.
Dharamshla é uma cidade localizada no norte da Índia, sede do governo tibetano do exílio, onde o Dalai Lama viveu por 50 anos exilado. Cheguei em Dharamshala 8 de março para participar de um dia de ensinamento que o Dalai Lama iria proferir no dia 11 de março. No dia seguinte, segui em direção ao mosteiro dele e encontrei centenas de tibetanos e devotos de toda parte do mundo ouvindo os cantos tibetanos. Entrei então no meio da multidão e, de repente, vi o Dalai Lama a menos de 50 metros de distância. Foi muito emocionante poder diante da Sua Santidade e de centenas de monges.
Soube, então, que o dia 10 de março é o dia mais importante para os tibetanos: o Dia da Revolta Nacional Tibetana, em que o Dalai Lama discursaria e, após o discurso milhares de tibetanos e simpatizantes pela causa “Free Tibet”, sairia em passeata pela cidade de Dharamshala.
Na manhã seguinte estava eu, com uma bandeira tibetana nas mãos, junto de milhares de irmãos vibrando pela causa “ Free Tibet”.
Reunimos-nos no mosteiro do Dalai Lama para ouvi-lo.
Durante o discurso, o Dalai Lama lamentou que seu povo tenha "experimentado o inferno na terra" nos 50 anos de ocupação chinesa. Também comentou a "série de campanhas repressivas e violentas" que a China aplicou no Tibete e cujo resultado, disse, "foi a morte de centenas de milhares de tibetanos".
Falando para 10 mil tibetanos do mundo todo, o líder espiritual budista criticou a China por provocar "sofrimento e destruição indizíveis", os quais "lançaram os tibetanos em tais profundezas de sofrimento e dificuldades".
Participar deste momento histórico foi muito forte para mim, pois pude sentir mais de perto o povo tibetano e toda a sua angústia e sofrimento. A maioria dos tibetanos que vive em Dharamshala fugiu do Tibete, tendo que atravessar toda a cordilheira do Himalaia, numa caminhada de 26 a 30 dias nas montanhas geladas do topo do mundo. Os mais jovens já nasceram em Dharamshala sem nunca poder conhecer o Tibete.
Eles contam com o apoio das mentes sensíveis em todo o mundo para ajudá-los nesta grande causa que é o “Free Tibet”. Agradeço por esta oportunidade de estar mais uma vez no solo sagrado da Índia, onde tenho adquirido tanto conhecimento espiritual para poder seguir o caminho do Yoga com mais firmeza e determinação.
Maria Laura Garcia Packer é professora de Yoga há 20 anos, fundadora da Casa de Yoga Shanti Om e autora do livro Vegetarianismo Sustentando a Vida (Ed. Letra d´Água).
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