Eco Esperto


Por: Thays Biasetti

Cuidar do planeta também faz parte da rotina yogi. Mas o que é realmente sustentável?
 


Fotos: Huan Gomes

Muito tem se falado nas questões sustentabilidade e ecologia. Um exemplo foi a proibição de sacolas plásticas nos supermercados no Estado de São Paulo. Os consumidores reivindicaram, o Procon entrou na briga, as sacolinhas retornaram por um tempo, mas a lei voltou a valer. Ramón Bonzi, jardineiro paisagista, professor de jardinagem, especialista em meio ambiente e sociedade pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e mestrando em paisagem e ambiente na FAU-USP, acredita que precisa haver coerência nas decisões. “Não adianta proibir a sacolinha de supermercado e continuar com os sacos de lixo de polietileno, que têm muito mais plástico”, explica.

Isso é só uma amostra das ações em prol da sustentabilidade, mas será que reciclar o lixo ou economizar água faz de nós cidadãos sustentáveis, ou estamos apenas mantendo nossa consciência tranquila? José Eli da Veiga, professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas, acredita que tudo tem um ponto positivo. “Só o fato de gerar discussão para o assunto já é benéfico para sociedade”, comenta.



Sustentabilidade x consumo
Quase uma unanimidade entre os especialistas é o fato de que o problema da sociedade moderna é o consumo excessivo. Não adianta separar as latinhas de cerveja e continuar comprando todas as novidades que surgem a cada mês, ou não ter consciência de como o produto é fabricado e de onde vem. “Reciclar é legal, mas muito mais importante é reduzir o consumo. E reutilizar os materiais é mais interessante do que entregá-los para a reciclagem”, diz Ramón. Ilka Vercellino, docente do curso de ciências biológicas do Centro Universitário São Camilo, acredita que o consumo consciente envolve uma mudança de conduta e de hábitos diários, e isso leva tempo. É possível manter a qualidade de vida e bem-estar e conservar o que ainda resta no planeta”, diz.

Ramón acredita que uma forma de criar essa consciência é fazer as pessoas pagarem, “mexer no bolso dos ‘insensíveis’ por meio de um imposto a ser revertido para custear campanhas de educação ambiental voltadas para a redução do consumo”.



Eco yogi
Valéria Tholozan e seu filho Romain Blatché são exemplos de pessoas que vivem a filosofia eco. Frequentam a feira orgânica de Florianópolis, evitam plásticos, fazem compostagem. Mas o mais interessante é o modo como lidam com as coisas velhas. Adeptos do método Waldorf, eles reutilizam os materiais e consertam objetos quebrados. “Temos o hábito de reparar as coisas que quebram ou estragam. Não pensamos em jogar fora e comprar outro, e sim em reparar, pelo menos até verificarmos que não tem conserto. Mas as coisas têm uma vida útil e podem durar menos do que deveriam. Melhor pagar mais por coisas de boa qualidade”, diz Valéria, professora do método.



Mitos e verdades ambientais
Sacolas plásticas x sacolas retornáveis

“A Irlanda não proibiu a circulação, mas conseguiu reduzir em 90% o uso de sacolas plásticas com a criação de um imposto. O Japão reduziu em 35% o uso com campanhas de conscientização. Já África do Sul, Ruanda e Nova Délhi punem o uso de sacolas plásticas até com prisão. Por aqui, a cidade de Jundiaí conseguiu reduzir drasticamente a circulação das sacolinhas sem lei nenhuma. Mais do que substituir um material por outro, deveríamos é criar mecanismos para que o consumidor traga a sacola ou caixa de papelão de casa”, comenta Ramón.

A melhor sacola é aquela que você já tem em casa. Mas se for comprar, o melhor material é o reutilizado, como a lona.“E usar a mesma sacola o máximo possível. Um estudo feito pela Agência do Meio Ambiente inglesa constatou que as ecobags são utilizadas 51 vezes em média, o que as torna mais prejudiciais do que as sacolas plásticas”, completa Ramón.



Sacolas biodegradáveis
Ramón afirma que se não tiver um destino adequado, qualquer saco será nocivo: “Se tivéssemos usinas de compostagem em quantidade adequada, o saco biodegradável, seria uma opção interessante. “A oxibiodegradável é feita de polietileno, mas possui o aditivo D2W, que promete acelerar a decomposição para dois anos. Mas para isso acontecer precisa de água, luz, oxigênio ou ar, elementos a que dificilmente terá acesso em uma enorme pilha de lixo compactado. E para complicar, esse tipo de plástico não aceita a reciclagem mecânica. E embora esse polímero se esfarele em pequenas partículas, ele continuará na natureza liberando gases e metais pesados. Já a biodegradável, também chamada de compostável, é feita a partir de milho e promete sumir em 45 dias. Mas para que isso aconteça também precisa de ar. Esse tipo de sacola deve ser encaminhado para usinas de compostagem”, explica.


Papel higiênico no lixo ou no vaso?
Ilka Vercellino diz: “O papel pode ser jogado no vaso desde que a sua cidade conte com um sistema de coleta e tratamento de esgoto. Na estação de tratamento esse material será separado e destinado a um aterro sanitário. Se você jogar o papel na lixeira, também seguirá para um aterro sanitário, mas com um aumento do volume de lixo, além do acondicionamento em sacos plásticos. Quanto ao entupimento, dependerá do sistema hidráulico, da quantidade de papel e também do volume de água em cada descarga. É importante destacar que outros produtos como absorventes, plásticos, cotonetes e fraldas devem ir para a lixeira”.


Lavar o lixo reciclável
Ilka diz que apesar de haver gasto de água com a lavagem do lixo reciclável, o ideal é que o mesmo esteja limpo, já que o tempo entre a separação do lixo e a coleta é muito variável. “O lixo sujo acaba atraindo vetores como baratas e ratos. A lavagem não é obrigatória, pois as empresas de recicláveis lavam todo o material. Eu aproveito a água de lavagem da louça, assim há uma redução no volume gasto.”

Além disso, não lavar o lixo pode contaminar o restante. “Se você entregar um vidro de óleo e aquele restinho escapar, isso inviabilizará a reciclagem dos papéis. Para embalagens com óleo, a dica é usar água quente e reaproveitar a água do ovo cozido ou do macarrão”, complementa Ramón.


Lâmpadas fluorescentes
Lâmpadas incandescentes com potências de 150 W e 200W não podem mais ser produzidas ou importadas pelo Brasil desde dia 30 de junho. Mas será que as fluorescentes são mais ecológicas? As lâmpadas econômicas possuem em sua composição mercúrio, chumbo, argônio, zinco e silício, elementos químicos com diferentes graus de toxicidade. “Pode-se dizer que se as lâmpadas fluorescentes compactas forem descartadas corretamente, solo e lençóis freáticos estarão a salvo. Mas em nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/2010), o setor empresarial terá que dar um jeito de recolher e destinar corretamente seus produtos. Estima-se que 100 milhões de lâmpadas fluorescentes são comercializadas no Brasil por ano. Reciclamos cerca de 6%, o que chega a ser surpreendente, já que temos poucas empresas capacitadas e o custo da reciclagem é algo entre R$ 0,60 e R$ 0,80 por unidade. Além disso, apenas 8% dos municípios brasileiros contam com aterros licenciados para receber essas lâmpadas”, explica Ramón.“Mas há uma luz no fim do túnel: a nova geração de lâmpadas LED. Os fabricantes garantem que elas duram 50 vezes mais do que as incandescentes, consomem 80% menos energia e são livres de metais pesados. Seu custo ainda é alto, mas o investimento se pagaria em dois anos. No final das contas, ela acaba até saindo mais barato do que as outras.”



Casa ecológica = preço alto
Construir uma casa sustentável ainda é caro. Mas o investimento costuma se pagar em aproximadamente dez anos. E você também pode utilizar alternativas. “Sistemas de captação da água da chuva são relativamente simples: basta conectar a calha a uma caixa d´água ou a uma cisterna. E você pode usar essa água para lavar o chão, molhar as plantas, lavar o carro. Só não use a mesma caixa em que você recebe a água tratada. Também há sistemas de aquecimento solar de baixo custo, desenvolvidos por universidades e até por inventores amadores, com garrafas PET e embalagens de leite longa vida. Outro jeito de tornar a casa “sustentável” é simplesmente resgatar o que já foi de praxe na arquitetura: posicionar cômodos, piscina e jardim em relação aos pontos cardeais”, completa Ramón.



Compostagem dentro de casa
“Se bem-feita, a compostagem não atrai ratos, baratas nem moscas. Esses animais aparecem quando acrescentamos carne, produtos industrializados ou resto de comida cozida. Ou quando não prestamos atenção às necessidades básicas de uma pilha de compostagem: estar protegida da chuva, em local sombreado e arejado, com equilíbrio entre a quantidade de material úmido e o seco. De fato, a coisa complica nos apartamentos porque não temos aquele metro quadrado de chão de terra, que ajuda a drenar a pilha de composto. Há algum tempo, surgiram no mercado minhocários domésticos – equivocadamente chamados de composteiras – que prometem ser a solução para essa situação”, diz Ramón.



A questão da água
Por Ramón Bonzi

Podemos reaproveitar a água da máquina de lavar para limpar o quintal, usar válvula econômica no vaso sanitário, só utilizar a máquina de lavar quando tiver a quantidade máxima de roupa, usar irrigador em vez de mangueira. Ter jardins com plantas rústicas, em vez de gramados e plantas que exigem muita irrigação. Encurtar o banho e, na hora de lavar a louça, fechar a torneira enquanto ensaboar e posicionar as panelas embaixo de onde você irá enxaguar os talheres, assim já vai limpando o que está por baixo. E instalar aeradores (bico chuveirinho) nas torneiras. Na hora de lavar o carro, vá de balde. Ou melhor ainda: não tenha carro!

Mas ser vegetariano é uma contribuição provavelmente mais significativa que todas essas dicas, já que a produção de carne exige centenas de vezes mais água do que a produção de verduras e legumes.
 

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