YOGATERAPIA

Tempo de cura

Por: Greice Costa e Thays Biasetti

Passando por um problema de saúde ou emocional? Respire… práticas e atitudes muito simples podem ser de grande ajuda


Colaborou Cacau Peres 
Fotos: Cauê Ito


Se você tem uma rotina atribulada, típica da nossa época – com trânsito, celular, internet, pressão no trabalho e sem tempo – provavelmente já passou por alguma fase difícil de queda do sistema imunológico ou de colapso nervoso. Pode ter sido de uma gripe que demorou a ser curada a um câncer; de um sentimento de ansiedade prolongado a uma depressão. “Vivemos uma epidemia de falta de conexão com o momento, de falta de conexão com a terra, de falta de corporificação, de enraizamento”, conta o dr. Paulo de Tarso Lima, médico responsável pelo Setor de Medicina Integrativa e Complementar do Programa Integrado de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein.

Esse contexto de excesso de informação e desconexão com a essência é propício para o desequilíbrio que leva a doenças. “Problemas de saúde provenientes do estresse são característicos desta era. Todos os que têm um fundo emocional e que têm como causa um sistema nervoso sobrecarregado”, afirma Marcos Rojo, Ph.D. e professor de Yoga da USP.

Segundo o dr. David Frawley, um dos maiores especialistas em Ayurveda do mundo, a mente reproduz padrões do ambiente à sua volta. E a mente urbana recebe estímulos em excesso, não tem pausa e nem ligação com os ritmos da natureza. “Quem não cuida do estilo de vida está abrindo campo para a instauração de alguma disfunção, seja física, fisiológica, mental ou emocional”, explica. Para ele, a depressão é causada pela abstinência de estímulos em que já estamos viciados. A doença acontece quando nos encontramos fora do nosso estado natural, acredita Rojo: “O natural do ser humano é um estado integrado, sem conflitos, medos, desejos e apegos. Nosso estado natural é contentamento, é viver meditativamente”.


ESTILO DE VIDA 
A chave da boa saúde e do êxito de cura está no estilo de vida. “A autocura não é um milagre. Tem mais a ver com cultivar uma rotina saudável”, diz David Frawley. Seguindo essa linha, questiona a indiana Shambhavi Chopra, estudiosa de Yoga: “Se você não tem nem 15 minutos diários para parar e compensar essa rotina acelerada, como pode dizer que cuida da saúde?”

A rotina sem compensações para a correria e bombardeio de informações está presente na maioria das pessoas com histórico de doenças. A fisioterapeuta e professora de Yoga Gisela Naif Caluri já foi representante dos estressados: “Trabalhava 18 horas por dia, sempre almoçava ou fazia o lanche rapidamente, às vezes até no caminho do trabalho”. Assim ela adquiriu uma hérnia de disco e anos de dor até a primeira aula de Yoga. “Senti um grande alívio. Comecei a praticar Yoga todos os dias, cortei minha jornada de trabalho pela metade, organizei os horários.” O processo de cura durou um ano.

Laura Pires, nossa capa, era uma jovem arquiteta de sucesso no Rio de Janeiro antes de ter o diagnóstico de esclerose múltipla. “Eu tinha uma vida estressante. Os hábitos ‘saudáveis’ que acreditava ter eram uma alimentação vegetariana e uma prática de Yoga, sem muita regularidade. Sem horário para dormir, comer, ia fazendo as coisas à medida que o trabalho permitia”, lembra Laura, que hoje é terapeuta ayurvédica e segue com disciplina o seu dinacharya (rotina de acordo com o bem-estar e sua constituição física e energética).

É muito provável que nosso estilo de vida seja mais parecido com o da arquiteta Laura do que com o da terapeuta Laura. Mas não é preciso que você faça uma revolução, mude de emprego ou de cidade para prevenir doenças ou ajudar o processo de cura. O Yoga é uma ferramenta valiosa para prevenção ou cura, já que leva ao autoconhecimento que mostra quais as nossas limitações, necessidades e, principalmente, a nossa verdadeira essência, que já é plenitude e cura.

Jorge Luís Knak e Maria Nazaré Cavalcanti, professores da linhagem de Krishnamacharya no centro Añjali, em Porto Alegre, explicam: “O Yoga é basicamente um caminho de cura, que se processa em diversos níveis, inclusive para o que o Yoga considera a doença fundamental do ser humano: sua confusão a respeito de si mesmo (avidya), sua identificação indevida com os papéis que representa (asmita) e o sofrimento daí decorrente. Nesse caminho do esclarecimento de confusões e recuperação do equilíbrio, é importante ter consciência de fatores como força vital (prana), nossas emoções e o nosso conjunto de práticas que levam à plenitude (sadhana)."


A FORÇA VITAL 
Prana é a energia que está presente em tudo o que é vivo. É a respiração da alma e rege as emoções como entusiasmo, coragem, alegria. “Prana é o substrato energético que forma nosso corpo tangível, regulador de todas as funções orgânicas e físicas. O volume de prana que circula no corpo determina o grau de vitalidade de cada indivíduo. Luz e calor do sol, alimentos, água e, principalmente, o ar são fontes de prana.” (Pedro Kupfer, Dicionário de Yoga). 
Segundo o dr. David Frawley, mente e prana funcionam como as asas que permitem o voo: a mente é o poder da percepção e o prana, o poder da ação. É por isso que a prática de exercícios respiratórios, alguns chamados de pranayamas, é uma das melhores aliadas na maioria dos processos de cura.

Dr. Frawley, o professor de Yoga paulistano Gui Nascimento, dr. Paulo, do Einstein, e a terapeuta ayurvédica Laura Pires concordam que os exercícios respiratórios, a consciência da respiração a cada momento e do prana fluindo pelo corpo são uma grande fonte de fortalecimento para muitos casos de autocura. “A respiração é um caminho de autoconhecimento simples, barato e seguro. Falamos muito em autocuidado, mas se não temos consciência corporal, o autocuidado fica difícil”, diz o dr. Paulo.

Aprender a usar a respiração como aliada é importante, mas não deve ser a única medida. “Para alguns pacientes com problemas pulmonares, talvez o mais indicado sejam técnicas respiratórias mesmo; para pacientes com problemas cardíacos, o relaxamento; para os deprimidos, cantos devocionais. Seja qual for a técnica escolhida, não se deve esquecer que o Yoga é um sistema holístico. A aplicação de uma técnica específica para cada patologia é uma tendência de ‘alopatização’ ocidental que não pertence ao universo do Yoga”, adverte Marcos Rojo.

Por isso, nossa sugestão é que você crie uma rotina de cura de acordo com suas necessidades. E ter a consciência de que, por mais que você receba ajuda, é um processo seu. O dr. Paulo acredita que mesmo que exista um profissional que queira ajudar, é um caminho individual: a cura requer a conexão da pessoa com ela mesma, e que ela esteja mais apropriada ao corpo. Quando isso acontece você começa a ter mais controle e fica menos refém do que está acontecendo fora. O médico coloca a medicina milenar indiana como exemplo: “No Ayurveda, a cura é sempre um processo de educação, de conexão. Há sempre uma visão de que a pessoa é detentora dessa capacidade. Não o terapeuta, não a medicina, não o Yoga”.


O SEU CAMINHO 
Sadhana é a prática cotidiana de Yoga, no tapetinho e fora dele. É manter-se atento em cada ação e permanecer consciente da ligação que nos mantém no ritmo da natureza e do Universo, em que cada partícula de vida é o todo. O sadhana nos aproxima do sagrado, o que é ótimo para momentos de baixa energia. “Sacralizar as ações diárias é importante. E alimentar essa parte da sua vida, seus deuses, suas orações, traz mais beleza para o cotidiano também”, explica Yogini Shambhavi.

“Por meio do sadhana e dos rituais, podemos integrar as diversas energias universais existentes dentro de nós e no mundo, seguindo em direção à cura”, diz Maya Tiwari, autora de livros como Caminhos da Prática e também dona de uma incrível história de auto- cura de câncer de ovário. Para ela, sadhana é a prática de meditação em movimento. Para a terapeuta Laura Pires, o sadhana foi a chave para a sua autocura. “Nada aconteceu como um passe de mágica. Não tomei uma pílula e fiquei livre de todos os sintomas... o árduo ‘trabalho’ diário me trouxe uma nova vida muito mais saudável e consciente.” Laura segue à risca as recomendações de pranayamas, Yoga, meditação e alimentação saudável e equilibrada. “A disciplina nas minhas práticas foi essencial para o sucesso”, revela.


ATENÇÃO ÀS EMOÇÕES 
Trazer o sagrado a pequenos atos e levar consciência para cada tarefa ajudam na construção do foco no momento presente, o que causa influência direta nas emoções, que são fundamentais para a circulação de energia e do bem-estar, além de refazer o seu “eu”, que pode ter sido dissociado pelo sofrimento na doença. “Em qualquer processo de cura, temos de prestar atenção nas nossas emoções. O medo faz com que o prana diminua; a raiva faz com que o prana esquente e se desequilibre; o apego diminui o ritmo do prana”, explica o dr. Frawley.

Não é só uma questão de energia sutil. Distúrbios comuns de hoje como depressão e raiva têm influência no corpo físico. Por exemplo, a depressão vem acompanhada de mais incidências de problemas cardíacos, segundo o cardiologista Elias Knobel, diretor do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein, que acaba de lançar Coração é Emoção (ed. Atheneu). O livro relata suas pesquisas sobre como a ansiedade, o rancor, a alegria e o amor vêm acompanhados de sintomas que podem culminar no comprometimento clínico do coração.


YOGA CURA? 
Para Joseph e Lilian Le Page, criadores do método Yogaterapia Integrativa e professores da Montanha Encantada em Garopaba, SC, não restam dúvidas sobre a eficácia do Yoga no tratamento complementar a doenças. Há 8 anos ambos ministram programas comunitários de yogaterapia para hipertensão e depressão, em parceria com a Secretaria de Saúde de Garopaba. “Nas aulas para hipertensos, recebemos pessoas que não vinham respondendo bem à medicação prescrita pelos médicos, mas que ao longo das dez semanas de Yogaterapia voltam a ter a pressão arterial estabilizada.” 
Apesar de aparentemente ser um tratamento efetivo no combate às doenças psicológicas, ainda é temerário concluir que a prática de fato contribua cientificamente. A Ph.D. inglesa Karen Pilkington, daSchool of Life Sciences, da Universidade de Westminster, na Inglaterra, publicou dois estudos sobre Yoga para depressão e para ansiedade: “Nenhum foi suficiente para provar que o Yoga funciona em ansiedade ou transtornos depressivos”.

Para Joseph e Lilian, a dificuldade de tais estudos acontece porque lidam com o Yoga de forma fragmentada, como se estivesse restrito às suas técnicas variadas, como se fossem pílulas alopáticas. “O processo de cura pelo Yoga é holístico, integrativo, e não se restringe à aplicação de técnicas.”

O fato é que, na prática, muitos professores e alunos são testemunhas da eficácia do Yoga. A atriz Ana Maria Saad sofre com depressão desde a infância e garante que o Yoga é uma das principais ferramentas para manter-se em equilíbrio. “Com a consciência da respiração que ganhei no Yoga, aprendi até a abrandar as crises de pânico”, relata. Ana e Geison Ferreira produziram o projeto audiovisual Pensamentos Filmados. A depressão é tema de V.I.D.A., o primeiro dos vídeos. 
Rui Afonso, professor de Yoga do centro Satsanga, em São Paulo, defendeu uma tese de mestrado na Unifesp intitulada Yoga como proposta para melhora de sintomas de menopausa em mulheres com queixa de insônia. Ele relata: “Sei por experiência própria que o Yoga pode ser um excelente aliado no tratamento de transtornos de ansiedade e do humor. A prática regular de Yoga causa alterações no sistema nervoso central, sistema nervoso autônomo e neuroendócrino, no qual ocorre um aumento no tônus autonômico e sistemas de resposta ao estresse, predominância do sistema nervoso parassimpático, redução na liberação de cortisol (hormônio relacionado ao estresse). Assim, o organismo entra em um estado de equilíbrio, o que favorece o tratamento de qualquer doença, que é um estado de desequilíbrio”.

Ainda assim, Rui é cauteloso ao recomendar a prática de Yoga para a cura de doenças psicológicas: “Sendo uma doença grave, deve-se tentar também um tratamento convencional, porque o Yoga não é uma panaceia”. A mesma cautela tem o professor Pedro Kupfer, de Mariscal, SC, editor do site yoga.pro.br e também nosso consultor: “Posso afirmar que conheço pessoas que não tiveram bons resultados nesse plano, mas penso que o Yoga possa ajudar quando aplicado adequadamente”.

Os profissionais concordam que a autocura passa diretamente pelo processo de autoconhecimento. Kupfer sentencia: “Para que a cura aconteça, a prática deve ser acompanhada de uma mudança na visão de si mesmo. Portanto, Yoga sem autoconhecimento não funciona”.

O médico radiologista e professor de Kundalini Yoga Rodrigo Yacubian Fernandes trabalha Kundalini Yogacom pacientes há cerca de três anos, com resultados gratificantes, principalmente em pessoas que apresentam transtornos ansiosos, como síndrome do pânico, insônia por ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo, além de casos de depressão e transtorno bipolar. “Entretanto, os resultados estão atrelados à prática regular e disciplinada do paciente, sendo fundamental que ele tome consciência de sua participação no processo de estabilização”, adverte.

Para o professor Marcos Rojo, os benefícios da aplicação de algumas técnicas de Yoga no tratamento de pacientes com distúrbios específicos têm sido comprovados pela ciência, mas o conceito de cura vai além disso. Quando se fala em cura no sentido do Yoga, temos de rever nossas prioridades: “Temos que mudar nossas atitudes, temos que repensar a vida sem nos esquecermos de que um dia vamos morrer e que morrer não é ser derrotado”, diz Rojo.
 


Prana, o seu melhor amigo 
Vamadeva (Dr. David Frawley) 

O prana é o principal poder de cura no Yoga. Ele traz energia para dentro do corpo e da mente, fortalece os sistemas respiratório, circulatório e digestivo. Quando o prana está fraco ou bloqueado, acontece alguma doença. Por isso o melhor tratamento é o pranayama, o controle do prana. Os exercícios respiratórios são mais importantes do que qualquer alimento, remédio ou ervas. Não custam nada e são o melhor que podemos fazer para nós mesmos.

O prana é o seu melhor amigo, e a sua conexão mais próxima com o Divino. É a melhor ferramenta para acalmar a mente, e o melhor aliado dela. Não é difícil ter contato com a energia vital. Só parar e prestar atenção no prana traz um efeito calmante. O ato de respirar lentamente já elimina a turbulência. Tomar consciência do seu prana é a primeira fase da meditação. É muito simples e eficaz praticar exercícios respiratórios. O cuidado principal é não forçar – as inspirações e expirações têm de ser suaves. E as retenções requerem mais cuidado ainda. Não force jamais o tempo das retenções de ar! As retenções são poderosas porque quando a respiração para, a mente também para – existe uma conexão entre a respiração e a mente.

O prana é como um músculo – uma pessoa que nunca fez musculação não consegue levantar 100 kg, mas com o tempo de prática, isso torna-se possível. Portanto, se praticarmos, desenvolveremos tempos maiores de respiração mais profunda e lenta, teremos resultados mais abrangentes. Naturalmente você vai se aprofundando e gradualmente trabalha a respiração com mantras, variações de focos e diferentes narinas, por exemplo.

Para começar: na inspiração, você obtém energia. Na retenção, você absorve apenas o que é bom. Na expiração você faz duas coisas: expressa a sua energia e também libera a energia negativa. Isso é muito útil na maioria dos processos de autocura.
David Frawley vive em Novo México, EUA, e ensina pelo mundo www.vedanet.com
 

Ajuda integral 
Dr. Paulo de Tarso Lima 

Existem na literatura casos de retrações não convencionais. A pessoa tinha câncer, suspende a quimioterapia e vai para o mato, e os tumores regridem e desaparecem. Mas não é só a pessoa que faz. É um todo. O quanto não tem de espiritual nessa história? Ou de fatores e experiências que vão otimizar uma resposta inata do corpo? Na maioria dos casos, os pacientes usufruem de tudo que podem – da boa alimentação, de boas terapias, boas pessoas e da boa relação espiritual. Se para a pessoa faz sentido, é um recurso terapêutico extraordinário. Mas a pergunta é: só isso? Não. É necessário ir à Índia para usufruir disso? Não. Pode ser em São Paulo, no concreto. Está em você. É só você se permitir, entrar em contato. Aí entra o papel do médico de legitimar esse lugar. De mostrar ao paciente que está usando as melhores drogas, mas que tem uma capacidade inata de cura.

O paciente que convive com o câncer fica em um estado de vulnerabilidade e uma dissociação com a realidade absoluta. Ou ele vai para o passado e fica tentando entender por que teve câncer, com um sofrimento atroz. Ou fica na frente tentando prever o que vai acontecer, e perde o momento presente. O tratamento é muito agressivo para o corpo e o mecanismo mais simples é dissociar; então, em vez de estar em contato com a dor, ele foge. Perde-se o contato com o corpo e com o momento presente. O caminho para restabelecer isso é voltar para o corpo, para a respiração, para o contato com o sofrimento. Mas é um lugar de consciência, em que ele começa a sentir mais o corpo e ele vai estar muito mais “empoderado”, do inglês empowered.

Dr. Paulo de Tarso Lima é médico responsável pelo Setor de Medicina Integrativa e Complementar do Programa Integrado de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein. www.medintegrativa.com.br



Meditação da luz interior
Uma prática de 30 minutos para fazer bem cedo ou à noite (antes de dormir) 
Por Mother Maya (Maya Tiwari) 

Coloque uma vela (de preferência de mel de abelha ou material orgânico) ou uma lamparina de ghi em seu altar ou em uma mesa baixa, em um lugar calmo da sua casa.

Sente-se confortavelmente na frente da chama, de preferência no chão. Fixe o olhar na chama suavemente por cerca de 10 minutos. Tente piscar o mínimo possível.

Siga a chama com os olhos. Deixe a mente imergir na chama. Visualize a luz externa como se fosse a sua luz interna. Veja a luz permeando no seu chakra do coração.

Esvazie a mente de pensamentos, ofereça-os para a chama. Esvazie o coração de dor, desespero, ansiedade e solidão. Peça à chama para receber todas as emoções negativas. Isso purificará seus pensamentos e acalmará o coração.

Feche os olhos suavemente. Continue a visualizar a chama no centro da testa, a área do terceiro olho.

Mantenha no fundo da sua mente: 
Eu sou amor, eu sou luz. Eu sou consciência. Tudo o que eu vejo revela esse amor. Tudo o que eu toco revela essa luz. Tudo o que eu penso revela essa consciência 
Sente-se em sua serenidade e deixe essa afirmação flutuar com luz na mente.

COPYRIGHTED © 2010 DIREITOS RESERVADOS, MAYA TIWARI


Está na mente 
Jorge Luís Knak e Maria Nazaré Cavalcanti 

O Yoga tem uma visão positiva do ser humano, do real potencial de saúde e lucidez, e oferece uma abordagem integrada para desenvolvê-lo. Não fragmenta a pessoa, mas propõe um desenvolvimento da vida física, energética, cognitiva, afetiva, ética e espiritual do ser humano. Essa visão não separativa é uma bênção e uma cura. Entre as palavras que usamos para definir doença estão: vyadhiroga duhkham, que remetem a um conceito de doença mais amplo do que estamos habituados. O Yoga nasce com o propósito de auxiliar na redução ou eliminação de duhkham, o sofrimento que é apresentado como uma doença, um mal-estar. A marca central do Yoga é mostrar ao indivíduo que ele é o responsável pela sua cura, que não vem de fora. A doença traz o sofrimento, a dificuldade de acreditar que a cura é possível, o mal-estar físico e a fraqueza ou instabilidade respiratória. Todo o conhecimento de Yoga foi construído para lidar com estas situações e reduzir aquilo que está perturbando ou degradando nosso corpo, a respiração e a mente. Yoga é cura. Há uma linda frase que ouvi em eventos do Krishnamacharya Yoga Mandiram: lidando com o corpo, curando com a mente. A cura profunda de qualquer experiência negativa se dá na mente, nem sempre no nível racional.
Jorge e Nazaré dirigem o Centro Anjali, em Porto Alegre. www.anjali.com.br


S.O.S. 
7 ferramentas de autocura 
1. Repetir para si orações, mantras, palavras de poder 

Yogini Shambhavi indica o Mantra para Durga nessa fase: “Traz proteção”: OM HRIM KRIM DUM DURGAYAI SVAHA (“om hrim crim durgaiê suarrá”)
2. Rumar da culpa e da solidão para o acolhimento 
“Culpa e solidão são doenças típicas da nossa época. Não a solidão física, mas emocional. A solidão é o oposto do acolhimento, que se dá pela proximidade emocional, da comunicação sincera, da união de fala e escuta. Está faltando, em nossa cultura, a habilidade de acolher o outro. Escutar, tentar compreender o outro é uma coisa maravilhosa. Mas, para isso, temos de ser apaixonados pela vida, pelas pessoas.” Jorge Luís Knak e Maria Nazaré Cavalcanti.
3. Cultivar as raízes 
Médicos, terapeutas e professores indicam o apoio dos familiares como uma das ferramentas mais importantes nos tratamentos. A sensação de estar no seu “berço” o ajuda a se conectar consigo. Não hesite em trocar mantras por orações de sua religião ou por mentalizações de palavras e ações positivas que fazem mais sentido para você.
4. Abrir-se para a mudança 
Para o dr. David Frawley, a cura requer mudança, o que exige tempo e dedicação. Sandro Bosco, fundador do centro Yoga Dham, em São Paulo, concorda: “Não é fácil mudar comportamento. O sábio Patañjali (... a 2060 a.C.) alerta para a necessidade de abhyasa – a prática do Yoga regular e constante – e de tapas, o fogo interno purificador e renovador, despertado pelo esforço sobre si mesmo. Yoga e meditação podem ser positivamente complementares para trabalhar junto com os efeitos benéficos da mudança de hábitos nocivos à saúde, uma vez que a prática tem a eficácia de fazer perceber nossos condicionamentos, ossamskaras (impressões do passado).
5. Cuidar da rotina, aceitar a medicação necessária 
Não se esqueça de fatores menos sutis que ajudam na recuperação. “Evite sedentarismo, excesso de comida, hábitos alimentares comprometedores (fast-food, uso de micro-ondas, comida congelada, excesso de carnes etc.), excesso de trabalho, ar condicionado por muitas horas”, adverte Laura Pires. A professora de Yoga Ivone Cella curou-se de um câncer há 11 anos e não esquece de que o êxito está em aceitar a combinação do tratamento médico com a prática: “Acho que Yoga funciona como um aliado, um amigo que ajuda a unir as técnicas milenares com a medicina tradicional”, diz.
6. Meditar 
Todas as práticas têm o intuito de nos conduzir a um estado meditativo. A cura manifesta-se nesse estado. Pratique meditação ou preparações para meditação.
7. Confiar 
“Há um alicerce definitivo para que tudo o que o Yoga apresenta faça sentido e possa dar seu fruto: a confiança (sraddha – Yoga Sutra I.20). A confiança ergue os olhos para procurarmos a saída. A partir daí podemos dizer que começa a contagem regressiva para a cura”, ensinam Jorge Luís Knak e Maria Nazaré Cavalcanti.
 


Ensaio sobre a cura
Laura Pires, terapeuta ayurvédica na capa desta edição, trilhou seu caminho rumo à essência para se curar de esclerose múltipla 
Com a rotina corrida devido ao trabalho de arquiteta, não percebi, por falta de consciência e atenção, que alguns sintomas de que minha saúde perdia sua capacidade estavam aparecendo. Ignorava a importância de ter horários, refeições e atividade física regulares, momentos de descanso físico e mental... Sentia fadiga, dormência no braço e muita so­nolência. Achava que era devido ao cansaço. Mas, em 2005, dias após o nervoso por causa de um acidente de carro, acordei para trabalhar e percebi que a visão lateral do olho esquerdo estava borrada. Lavei e observei por dois dias. Só piorou. Comecei a entrar em desespero. Meu ex-marido me levou a um médico. Assim começou um período complicado e estressante: muitos erros médicos, exames errados, profissionais sem o mínimo preparo para atender pessoas fragilizadas. Estava perdida, e ninguém chegava a um “acordo”. 
Durante três meses, ia a médicos a cada dois, três dias. Fiquei com a visão lateral com­prometida nos dois olhos; à noite eu enxergava apenas uma nuvem branca. Dificuldade de movimentar pernas, braços, dormências, câimbras que duravam horas, tremores, fraque­za… parecia um pesadelo. Não imaginava que podia sentir tanta coisa junto e ninguém saber o diagnóstico. 
E os médicos começaram a indicar doses fortíssimas de corticoides. Um quadro de esclerose múltipla ia se fechando. Estava diante de uma doença severa, de difícil diagnóstico, sem uma certeza quanto à causa e à cura, que vai depauperando a pessoa, que invalida, de um dia para o outro, mesmo nos tipos mais brandos. 
Cada vez que chegava em casa, chorava desesperada. Via a vida escorrendo pelos dedos, não tinha controle de nada. Logo eu, que gostava de ter controle de tudo.
Enquanto eu sofria, meu ex-marido passava as noites na internet em busca de uma solução. E foi da Índia que tivemos uma resposta. Um médico afirmava que eu ficaria bem desde que seguisse todas as orientações durante a internação e após o retorno ao Brasil. 
Chegando lá, me deparei com um autêntico hospital ayurvédico. Para o Ayurveda todas as soluções são naturais. Parte-se do princípio que a doença é um desequilíbrio e que a cura está na busca pelo equilíbrio. Percebi que temos responsabilidades sobre nós mesmos, que cada atitude é fundamental para determinar o rumo de nossa saúde física e mental.
O processo foi longo e de muita disciplina. O Ayurveda é uma medicina muito bem fun­damentada e coerente. Os tratamentos atingem o problema na sua raiz.
Meu organismo aos poucos foi recuperando seu equilíbrio. Somente após um ano e meio de muita disciplina diária é que realmente pude perceber que estava no caminho correto. 
Durante três anos, dediquei-me quase que exclusivamente a recuperar o equilíbrio. Passei a ter uma rígida alimentação e também comecei a fazer terapia de hipnose, que me ajudou a rever traumas e a superar a fase que estava passando, além de sessões diárias de automassagem e a prática constante de Yoga epranayamas.
Logo que voltei da Índia, o professor de Yoga Orlando Cani me deu dicas de pranayamas que iriam me ajudar. E o professor de Yoga Edi Lisboa me dava aulas para que aos poucos eu começasse a recuperar os movimentos.
Aprendi também na ONG Arte de Viver a prática de um kriya (técnica de purificação) que foi fundamental para “limpar” meu corpo e acelerar todo o trabalho. Mais tarde tive a gran­de oportunidade de encontrar Faeq Biria, professor de Iyengar, que me passou uma série de asanas para fazer diariamente, que mantenho até hoje. Resolvi então estudar Ayurveda, já que tive a experiência profunda na pele, na alma. 
Laura presta consultoria ayurvédica e dá workshops em todo o Brasil. buscadaessencia.blogspot.com
 


Alívio 
Por Gui Nascimento


Uma sequência calmante, suave e nutritiva. Cria tempo, pausa, recolhimento para o contato interno. O foco da prática é a progressiva redução da ansiedade Após as repetições, faça uma breve pausa com respiração livre. Observe-se!


1. Hasta vinyasa deitado 
Na inspiração, levante os dois braços acima da cabeça (se tiver lesões na cintura escapular, eleve os braços somente até onde for confortável). Na expiração, retorne à posição inicial. Mesma duração na inspiração e na expiração – um parâmetro é o tempo de 4 segundos, sem desconforto. Repita 8 ciclos.









2. Apanasana 
Na expiração, traga as pernas gentil e progressivamente ao peito (tórax). Use mais a força abdominal do que a dos braços. Na inspiração, retorne à posição inicial estendendo os braços. Se puder, aumente o tempo de expiração a cada repetição, deixando a inspiração responder livre às longas expirações. Estabilize a lombar no chão. Repita 8 ciclos. Em casos de ansiedade e estresse, os exercícios 1 e 2 podem ser associados ao kaki pranayama: inspira-se pelo nariz e expira-se pela boca, como se estivesse assoprando em um canudinho, diminuindo o espaço de saída do ar entre os lábios. A expiração pode durar o dobro do tempo da inspiração.









3.Vinyasa com suave torção deitada 
Na inspiração, os joelhos estão neutros e fletidos, com a planta dos pés e as costas apoiadas no chão. Na expiração, os joelhos caem para um dos lados (de forma suave e progressiva, sem forçar articulações). Na inspiração, retorne os joelhos para a posição inicial. Na expiração, os joelhos caem para o lado oposto. Dessa forma completa-se um ciclo. Mesma duração na inspiração e na expiração. Repita 8 ciclos.












4.Chakravakasana 
Na inspiração, eleve o tronco afastando-o do abdome. Na expiração, movimente a pelve para trás e para baixo em direção aos calcanhares, deixando o abdome pousar sobre as coxas, sem deixar o peso do corpo cair sobre os ombros. Mesma duração na inspiração e na expiração. Faça 8 vezes. 
DICA: Queixo baixo, mantenha um tônus suave no baixo abdome e evite hiperextensão da lombar na inspiração.










5. Variação de Vajrasana 
Na inspiração, eleve o tronco afastando-o do abdome; eleve também os braços (se tiver lesões na cintura escapular, eleve os braços somente até onde for confortável). Na expiração, movimente a pelve para trás e para baixo, o peitoral (tórax) pousa sobre as coxas, os ombros giram e o dorso das mãos descansam sobre o sacro. Faça 5 vezes. 
DICA: Ao elevar o corpo: cresça a coluna, ative suavemente assoalho pélvico e baixo abdome (mula e uddyana bandha), mantenha a cabeça neutra e use uma almofada para não machucar os joelhos.











6. Salabhasana com vinyasa de rotação de cabeça 
Deite-se em decúbito ventral, testa ou queixo apoiado no chão, mãos apoiadas ao lado do peito (tórax). Crie um espaço confortável entre os ombros e as orelhas. Na inspiração, entre em salabhasana: eleve suave peito (tórax) e pernas, transferindo o apoio do corpo para o osso púbico e para o baixo ventre. Ative assoalho pélvico, crie uma linha de força que direciona o topo da cabeça para a frente e os pés para trás, na direção contrária. Na expiração, relaxe o corpo no chão e deixe a cabeça girar para um dos lados. Inspire, volte para salabhasana, expire, relaxe todo o corpo no chão e volte a cabeça para o outro lado. Assim completa-se um dos 4 ciclos. 
DICA: no salabhasana mantenha o queixo baixo para não forçar a cervical, deixe o baixo ventre crescer e alongar junto com a inspiração, cuidado para não sobrecarregar a lombar — a idéia é crescer com ela!





7. Makarasana 
Deite-se em decúbito ventral. Eleve a cabeça e os ombros, apoie os cotovelos no chão. Suporte o rosto e o queixo nas palmas das mãos. Na posição ideal toda a sua coluna relaxa, sem tensão. Permaneça na postura. A respiração pode ser livre ou suavemente ritmada. Na inspiração, deixe a consciência da energia fluir da base da coluna ao pescoço; na expiração, retorne a consciência do pescoço à base da coluna. Com esta respiração consciente você destensiona sua coluna e ativa o fluxo de energias curativas. Mantenha a postura por aproximadamente 2 minutos e relaxe. 
DICA: Apoie os cotovelos e ajuste a posição deles: se ficarem muito próximos do corpo, podem gerar tensão na lombar; se estiverem muito avançados, podem gerar tensão na cervical.





8. Flexão na cadeira + Pranasthana 
Sente-se em uma cadeira, costas alinhadas, apoio nos ísquios, mãos sobre os joelhos. Os pés devem ficar posicionados um pouco à frente dos joelhos para que o corpo não perca apoio e estabilidade no momento da flexão. Na inspiração, abra os braços para os lados; na expiração, flexione o corpo para a frente, deslizando as mãos até os tornozelos ou pés; na inspiração, retorne à posição anterior, abrindo os braços; na expiração, retorne à posição neutra, com mãos apoiadas nos joelhos. Este é um ciclo. Você pode fazer uma breve pausa no final da exalação com flexão. Após 5 repetições, faça uma breve pausa sentado na cadeira, palmas juntas em anjali mudra (ao lado) – respiração suave e ritmada – observe o movimento da energia.


PRANASTHANA: é a posição conhecida como “o lugar da respiração”. Cria uma conexão/consciência de sua respiração. Com olhos fechados, leve a atenção para o interior da caixa torácica. Procure intuitivamente o ponto onde você sente que sua respiração está centrada (é o lugar onde a inalação parece começar e a expiração parece retornar). Não é o ar que respira que você quer observar, mas o movimento lento de expansão e convergência do prana (energia vital). Traga o queixo na direção do esterno (jalandhara bandha). Permaneça assim por 1 minuto.








9. Prática de Nyasa (SIMPLIFICADO) 
(9a) Sente-se em uma cadeira, costas alinhadas, apoio nos ísquios, mãos sobre os joelhos. Na inspiração, abra suavemente os braços num gesto de devoção. Na expiração, cante o mantra OM, trazendo a mão no baixo ventre. Após 5 repetições, faça uma breve pausa, com as mãos apoiadas no baixo ventre. Sinta a energia nas palmas das mãos; deixe a respiração livre, abdominal.


(9b) Na inspiração, abra suavemente os braços num gesto de devoção. Na expiração, cante o mantra OM, trazendo as mãos no coração energético (anahata). O canto do OM deve durar aproximadamente 4 segundos, sem desconforto – o “O” deve durar aproximadamente 3 segundos, e o “M” deve durar aproximadamente 1 segundo. A inspiração responde livre à expiração com canto. 
DICA: Sinta a energia do OM, e a intenção de cura penetrar a região do baixo ventre e do coração. Se for o caso, repita o exercício mais algumas vezes, deixando as mãos serem postadas na região do seu corpo que necessite de cura.








10. Meditação com yoni mudra 
TÉCNICA: Sente-se em uma cadeira, costas alinhadas, apoio nos ísquios, mãos emyoni mudra (comece entrelaçando os dedos para dentro, estique os dedos indicadores para a frente, e os polegares para trás, mantendo as pontas dos dedos unidas – indicador com indicador e polegar com polegar – perfazendo o formato de uma gota, com um coração por dentro). Mantenha-se em silêncio nesta posição, por alguns minutos. Observe a sua respiração abdominal. Observe o estado de conforto interno. Observe como o seu corpo está assentado nas pernas e no quadril. Observe a sua coluna leve. Perceba que aceitar o feminino dentro de você é aceitar o próprio ritmo da vida. Aceite que tudo na vida se transforma, em um ritmo próprio, e que você faz parte desse ritmo. Aceite-se como indivíduo total, amando-se em todos os seus aspectos. Acolha suas limitações, e saiba que é com elas que você é o que é. 
DICAS: O yoni mudra é especificamente indicado para questões relacionadas a fertilidade, cólicas, menstruação, menopausa, cistite, endometriose. É contra-indicado para o período da gravidez. Nesta meditação usamos este mudra, símbolo da deusa presente em todos nós, para nos reconectar com o aspecto feminino da cura, do ritmo suave e natural de todos os processos porque, em meio a tantos estímulos, nos distanciamos do feminino, as mulheres e os homens!


11. Savasana 
Deite-se e relaxe por 5 minutos. Use cobertores e almofadas para deixar o seu relaxamento bem confortável e acolhedor.


Suave na selva (sobre a prática) 
Esta é uma sequência com ênfase langhana: técnicas que incluem mais expiração e flexões para a frente. Mas, como diria o lendário yogi Krishnamacharya, uma prática boa para uma pessoa pode ser um veneno para outra. Por exemplo, alguém com ansiedade ou pressão alta não deveria no início elevar os braços. Como outro exemplo, é comum a associação de ansiedade com depressão. Mas para depressivos, esta prática pode ser letárgica demais. Use sempre a ajuda de um bom professor. Vale mencionar que este trabalho recebe influência de Swami Satyananda Saraswati, T. K. V. Desikachar, Srivatsa Ramaswami, Gary Kraftsow, Joseph e Lilian Lepage, Gustavo Ponce. GUI NASCIMENTO
 

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