Anti-depressivo natural





Como o Yoga ajuda no desempenho de terapias ou antidepressivos.

Bilhões movimentam a indústria farmacêutica com a promoção do conceito de que o que nos adoece é a química cerebral e se tomamos uma pílula, ficaremos bem. Na realidade, para alguns de nós, isso é verdade. Uma pílula como o Prozac, ou qualquer outro antidepressivo SSRI (acrônimo para a expressão inglesa selective serotonin reuptake inhibitors) ou inibidores seletivos da recaptação da serotonina, aumenta a taxa de serotonina no cérebro, o que faz nos sentirmos melhor. Mas o que há de errado com esse quadro? Por que tantos de nós, como se alega, somos deficientes de serotonina? Pesquisas com macacos resos (macaco da Índia) demonstraram que traumas precoces, como a separação da mãe, mudam a química cerebral. Estudos também comprovaram que o estresse, incluindo o estresse da separação social, afeta o balanço da serotonina no cérebro. Será que estressores inerentes a nossa cultura moderna são a fonte de uma deficiência internacional de serotonina, causando depressão em proporções epidêmicas? Certamente, a nossa cultura pós-moderna criou um freqüente improviso emocional. Desde a Segunda Guerra Mundial, o índice de depressão e suicídio entre adolescentes triplicou. A evidência ainda mais impressionante do nosso sofrimento foi encontrada em um estudo publicado em 1994, que determinou que pessoas entre 18 e 54 anos, aproximadamente a metade já sofreu de alguma doença psiquiátrica séria.


Fonte do Sofrimento

Em virtude do estresse humano e da complexidade tecnológica dos nossos tempos, freqüentemente assumimos que o nosso tempo é o pior de todos. Mas seres humanos sempre sofreram. “Viver em um corpo mortal” Buddha dizia, “é como viver em uma casa em chamas”. Sob o prisma do yoga, a fonte de nosso sofrimento é a nossa ignorância - avidya. Nos esquecemos de quem somos nós. Criamos uma identidade a partir do que fazemos, de quem amamos, de quanto dinheiro queremos ganhar e coisas que circundam nossas vidas. Desde a perspectiva clássica do yoga, estamos convidando o desapontamento, quando não a depressão para nossas vidas, porque criamos a nossa identidade baseada em nossos cinco kleshas, ou aflições existenciais – ignorância, egoísmo, apego, aversão e medo de morrer – que nos afastam e limitam a nossa realidade.

Muito de nossa angústia moderna provém da nossa inabilidade em amenizar nós mesmos, porque muitos de nós, não recebeu experiência suficiente para estar seguro e cuidado como as crianças. Se um trauma precoce pode perturbar a química cerebral, será que experiências de cicatrização em psicoterapia e o mat do yoga podem normalizar este distúrbio da mente ocasionado por um trauma? Muitos psicoterapeutas e yogis acreditam que sim. Ou, se alguns preferem não falar em termos biomédicos, eles sentem que o yoga trabalha bem com pessoas que sofrem de depressão. Talvez as estórias mais convincentes venham dos próprios praticantes, que sentem que o yoga devolveu-lhes a vida.

Professor internacional de yoga e psicólogo clínico, Richard Miller, editor e fundador do Journal of the International Association of Yoga Therapists, afirma que a maioria dos pacientes que tratou tem a crença de que não deveriam ser o que são. O primeiro passo é observar como esse pensamento pode influenciar em suas vidas – na respiração, pensamento e corpo. Por exemplo, uma professora que consultou Miller para o tratamento do início de uma depressão seguiu seu conselho e fez um diário, para que pudesse perceber a quantidade de julgamentos sobre si. Durante uma sessão de terapia, ele pediu que ela fizesse um âsana. “Ela imediatamente percebeu que seu interesse na postura era se estava sendo executada corretamente ou não”. Daí se tem noção conhecimento corporal, da crença crônica.

Inicialmente, a ênfase na aproximação do Dr. Miller com o paciente depressivo era para ajudá-lo a ver o que ele aceita ou não em sua vida. Então, a ênfase é transferida para a natureza de auto-aceitação. Às vezes, de acordo com o Dr. Miller, quando aceitamos algo que julgávamos ruim, estamos meramente “reorganizando os móveis”. Para acessar a raiz do problema e prevenir que a depressão se instale novamente, é preciso perceber que a nossa natureza é livre de qualquer julgamento, é aberta e liberta. A fim de cultivar essa visão, Miller encoraja seus pacientes a entenderem que as pessoas não são suas emoções. É mais fácil o depressivo perceber que ele não é triste, mas tem a tristeza presente em sua consciência.

A forma de auto-aceitação sem julgamento que tanto se fala durante as aulas de yoga e em várias linhas de psicoterapia – o que os yogis chamam de “tranqüilidade” – pode ser desafiadora, mas ultimamente a salvação para uma pessoa depressiva. Além disso, de acordo com Miller, a depressão é um problema somático que penetra os tecidos e precisa de trabalho corporal. “Yoga é uma excelente forma de trabalho corpóreo que elimina o resíduo instalado no tecido”. A mentalidade yogue é que os samskaras (impressões, marcas, feridas decorrentes de um trauma físico-emocional) são primariamente retidos em corpos sutis e subseqüentemente reflete-se em sintomas físicos como a tensão. “As posturas do yoga podem penetrar no que Wilhem Reich, fundador da ciência bioenergética, chama de “armadura do caráter”, nossos padrões inconscientes de contrações físicas e defesas”, afirma Cope em Yoga and the Quest.

Mas professores diferem quanto ao uso de âsanas no tratamento de depressão, e a fonte dessa diferença parece ser se o mat de yoga é o local apropriado para trabalhar as emoções. Alguns professores tomam como única solução essa aproximação que permite até encorajar o aluno a externalizar as emoções mais obscuras no mat. Outros professores podem guiar o aluno para estar presente com as emoções que aparecem em movimentos longos, deliberados, além de permanecer mais tempo em cada postura. Há os que supõe que o mat seja o melhor lugar onde um aluno emerge de emoções obscuras e começa a sentir-se aliviado. Esses professores em geral recomendam uma prática vigorosa e desencorajam posturas que possam promover pensamentos, como a curvatura para frente e a Savasana, "a postura do cadáver ".

Professora-instrutora internacional de yoga e aluna de B.K.S. Iyengar, Patricia Walden, adere ao segundo contato. Suas aulas são projetadas para que as pessoas saiam sentindo-se menos deprimidas. Para pessoas que sofrem de uma depressão caracterizada por inércia e fadiga, ou para quem esteja passando por um período de perda, Walden recomenda uma prática com a postura da ponte e inversões sustentadas. Para aqueles que experimentam a ansiedade, ela recomenda uma seqüência de posturas mais ativas, modificada de acordo com a experiência e nível físico de energia, para mantê-los “fora de si”. As posturas enérgicas que ela recomenda incluem a Saudação ao Sol, ponte e inversões. Posturas invertidas são particularmente úteis porque modificam a corrente de sangue, incluindo drenagem linfática e fluído crâneo-sacral.


De acordo com o Dr. Koffler, um médico residente que trabalhou com Andrew Weil no Programa de Medicina Integrativo na Universidade do Arizona, “Se há aumento de corrente sanguínea na área, haverá aumento de bio-utilidade de oxigênio e glicose – os dois mais importantes substratos metabólicos para o cérebro”. Conseqüentemente então as células, banhadas em uma solução que é rica para a construção de blocos de norepinefrina, dopamina e serotonina, exigidos na criação de neurotransmissores, serão capazes de produzir tais químicos. “Em termos não-medicinais, quando praticamos yoga, temos que literalmente alimentar nosso cérebro com uma dose saudável dos nossos neurotransmissores auto-gerados.”


Wladen aconselha seus alunos deprimidos para manterem os olhos amplamente abertos, e se estão com pensamentos, ela os orienta a cada postura sem pausas, a fim de gerar força vital e foco na mente e corpo. Em virtude das pessoas deprimidas terem normalmente a respiração superficial, ela os encoraja a fazer fortes inalações. E ao final da prática, ela aconselha uma respiração mais tranqüila, na postura do Setu Bandha (postura da ponte) para elevar e abrir o peito.De qualquer forma, Richard Miller duvida que seja possível prescrever âsanas específicos para pessoas com depressão, mas concorda que tentar determinadas posturas em uma base individual é o caminho para o começo. Em seu próprio trabalho com alunos depressivos, ele sugere várias posturas e então cuidadosamente, observa a pessoa na postura. Enquanto olha, ele enxerga que a energia da pessoa está bloqueada em áreas de auto-expressão – talvez o queixo esteja enfiado para baixo e a garganta contraída. Nesse caso, ele deve guiar o aluno em um âsana que abra a vishuddha chakra – considerado o chakra da purificação que corresponde à glândula tireóide.

Ou se ele notar que essa energia está bloqueada em volta do coração, ele deve fazer posturas que abram o coração envolvendo o anahata chakra. Desde que a baixa auto-estima quase sempre acompanha a depressão, posturas que energizem o plexus solar na manipura chakra podem ajudar. “A coisa mais importante,” afirma Miller, “é observar como a energia se movimenta no corpo. Você pode sentir a energia se movimentando da garganta para baixo, no coração, quando há a tristeza de se ter vivido um falso eu ou não ter expressado o verdadeiro espírito interior.”

Para Stephen Cope, não é o âsana em si que importa, mas a qualidade da atenção que trazemos para esse que pode fazer a diferença para alguém que está deprimido. “Devagar, o movimento deliberado ancora a mente na sensação e permite que ocorra um reaprendizado”. A prática de posturas tem intencionalmente o propósito de criar a fundação fisiológica para a “estabilidade e relaxamento”, o que Patanjali falou há dois mil anos.

Dentro da perspectiva do Viniyoga, depressão é uma condição energética em que o tamásico (inerente, escuro) prevalece nas qualidades da mente e controle das emoções, diz Gary Kraftsow, fundador e diretor do Instituto Norte-Americano de Viniyoga, e autor do livro Yoga for Wellness: Healing with the Timeless Teachings of Viniyoga (Penguin, 1999). A tradição ayurvédica promove os dois conceitos governantes do tratamento terapêutico de Viniyoga. O primeiro é langhana, encorporando técnicas que reduzem, eliminam, acalmam e purificam. O segundo é brahmana, refere-se a técnicas que nutrem, constroem, tonificam energizam. Então, por exemplo, a pessoas com depressão caracterizada por letargia pode se beneficiar de posturas que são mais brahmana, como a Virabhadrasana (Postura do Guerreiro) ou Tadasana (Postura da Montanha).

Mas Kraftsow relembra que cada indivíduo é único e todas as técnicas devem ser adaptadas às necessidades de cada corpo. Por exemplo, ele diz que apesar de muitas pessoas com depressão terem a parte superior das costas arredondada e peito afundado, há quem tenha a parte superior das costas achatada, então as posturas que se destinam a carências estruturais de uma pessoa podem funcionar melhor do que para aquelas cuja espinha é curvada para frente, mesmo que ambas estejam deprimidas. “A visão Viniyoga é que o trabalho do professor é conceder o método apropriado para o aluno e não fixá-lo em uma modalidade”. Ao tratar uma pessoa com depressão, Kraftsow tenta encontrar a pessoa onde ela esteja e conseqüentemente, medir os “passos” até uma sessão de yoga.

Para alguém que tenha pouca motivação para movimentar-se, ele inicia progressivamente. Ele pode começar com a pessoa deitando de costas, então mudar para posturas em pé mais vigorosas. Posturas em pé podem beneficiar pessoas que se sentem letárgicas para se exercitarem, “mas primeiro é preciso ter estratégia para tirá-los do sofá” e a melhor estratégia pode não ser os âsanas, mas simplesmente o convite para uma caminhada. ”Na minha própria experiência, quando estou me sentindo letárgico, mesmo uma “voltinha” pode tirar mais energia do que eu possa ter acumulado. Então o que fazer quando não se está a fim de praticar?” Às vezes coloco uma fita de áudio e deixo que outro professor conduza a minha prática. Há também aqueles dias em que o simples fato de sair de casa e levantar os braços pode me direcionar para uma forte e vigorosa respiração e prática de pranayamas. Mas ocasionalmente, nenhuma dessas coisas.


Esses são momentos quando Richard Miller diz, “deixe que o yoga venha até você”. Ele recomenda fazer uma postura, ou mesmo meia-postura, devagar e com tanta atenção, que por um instante, você sinta o seu braço direito “maravilhosamente bem, e que talvez você queira que o outro braço sinta a mesma coisa, e sua perna e a outra”. Nesses momentos, é especialmente benéfico “esvaziar aquele sentimento de precisar fazer direito, para liberar a rigidez e praticar de forma que realmente se esteja curtindo”. Quando o auto-julgamento surge no yoga, simplesmente o observe. Miller diz que isso é parte do processo eliminativo e deve ser esperado quando nos tornamos conscientes dos nossos antigos modos de pensar.

Bombeando o Prana

Quando Penny Smith eliminou ataques de pânico através de exercícios de respiração, ela estava explorando mil anos de sabedoria yogue. “Yogis compreenderam”, afirma Stephen Cope, “que mesmo na ausência de estressores imediatos, a “respiração perturbada” (respiração toráxica) poderia perpetuar ou recriar um estado de despertar do sistema nervoso causando estados de ansiedade, pânico ou reações de medo.” Milhões de anos atrás, yogis projetaram um profundo sistema respiratório abdominal-diafragmático que relaxa o corpo e acalma a mente.

Em sua experiência de tratar pacientes por meio da saúde mental em Phoenix, o professor de yoga Ted Srinathadas Czukor afirma que pranayamas foram as ferramentas mais efetivas. Em um caso, ele conta, uma mulher de 170 quilos com diversas deficiências físicas e psicológicas, que era freqüentemente sujeita a ataques de pânico, precisava ser sedada antes do tratamento médico de rotina. Depois de alguns meses praticando uma profunda respiração diafragmática com Ted, uma nova nota foi acrescida em seu relatório médico: “Antes de começar o processo, dê-lhe cinco minutos para praticar a respiração do yoga. Nenhum medicamento será necessário”.

Diversos novos estudos feitos sob proteção do Instituto Nacional de Saúde Mental e Neurociência na Índia concluíram que uma prática em particular chamada de Sudarshan Kriya, ensinada nesse país como “A Técnica Respiratória da Cura”, pela Fundação Arte de Viver, tem efeitos terapêuticos extraordinários – uma taxa de 68 a 73% de sucesso em tratar pessoas que sofrem de depressão, que agem sem dar atenção à severidade. De acordo com Sri Sri Ravi Shankar, um professor espiritual indiano que reavivou a técnica antiga, a raiz da depressão é um baixo nível de prana no sistema. A Técnica Respiratória da Cura é uma prática purificadora que envolve a respiração natural através do nariz, com a boca fechada, em três ritmos diferentes, “ inundando cada célula do corpo com oxigênio e prana, eliminando toxinas físicas e emocionais no nível celular”, diz Ronnie Newman, professor e pesquisador de terapias de Harvard e Diretor-pesquisador da Fundação Arte de Viver.

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