Você tem esvaziado sua xícara?
Quando a “coisa” aperta no meio do peito e começa a chamar por reflexão, a gente sabe para onde correr – e muitas vezes literalmente corremos como eu, que adoro corridas – mas nem sempre essa é a melhor saída. Somada a “coisa” vem o estresse, a somatização emocional, os valores que querem ser substituídos, porém aquilo que nossos antepassados nos deram de presente (seus sonhos, valores, desejos) não nos permitem avançar… Ou ainda, temos a alternativa de comer, beber, comprar. A agonia toma conta de nós de um jeito que quase perdemos o controle se não fosse uma coisa chamada “hora de fugir para meu espaço mágico.”
Eu tenho um desses refúgios chama-se Prainha na Guarda do Embaú, litoral de Santa Catarina. É lá que me refugio. É lá que esvazio a xícara. Depois da subida no morro de quase 40 minutos de trilha, eu avisto o mar aberto e algumas ilhas. Quando o pé bate no topo é como se um botão fosse acionado e o vento soprasse em mim levando tudo embora: o medo, as dúvidas, a dor, o cansaço. Uma brisa que me limpa e me dá ânimo de sentar mais adiante e meditar, silenciosamente de olhos abertos para o céu, ou caminhando devagar sentindo a areia tocar meus pés. Não tem um pingo de barulho ali, e por mais que algumas vezes eu encontre outras pessoas, tenho a impressão que ali é o canto sagrado delas também.
O momento se transforma em um espaço de comunhão, uma exalação profunda na qual as tensões se dissolvem a cada minuto passado.
Nós lemos diferentes textos, revistas, conteúdo de internet. Nós somos alimentados constantemente pela televisão, rádio, vizinhos, conversas com outras pessoas. Nossa mente nos bombardeia com sonhos, desejos, ideias, “achismos”, sofrimentos, alegria. E chega uma hora que sim… transborda.
Transborda em dor muscular, em respiração curta, em falta de apetite ou desejo sexual, em mau humor. A xícara requer constante atenção e basta você saber onde fica aquele espaço bom, onde você chega e tudo vira pó, fica somente o mais puro você. Vá até esse lugar quando sentir a necessidade de limpeza e seleção do “material de dentro”. Saiba olhar com inteireza o que é verdade, o que não é mais; o que pode ir embora para não virar ferida; o que fica para ajudar o seu crescimento como ser humano; o que vai ser lapidado para servir de exemplo.
Vale a pena ter aquele lugarzinho onde ninguém te cobra nada, nem você mesmo, onde o cérebro silencia, onde a mente aquieta, onde o corpo amolece e onde a respiração fica suspirada. Nem que esse espaço mágico seja um simples e gostoso colo de mãe.
Namaste.
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