Anatomia, ásana e o seu corpo na visão do Yoga Integral (1a parte)
Renata Sumar Gaertner
“Temos que ser capazes de reconhecer um hábito quando ele se manifesta, porque se soubermos como ele se organiza, ele perderá sua energia e não mais poderá nos controlar...temos que praticar para poder transformar cada hábito dentro de nós.”
Thich Nhat Hanh
Ao ler pela primeira vez estas sentenças de Thich Nhat Hanh, elas calaram fundo em meu ser. Reconhecer um hábito quando ele se manifesta... enfraquecê-lo... transformá-lo... como fazer isso sem julgar e se conscientizando de que você pode mudar. Sabendo que muitas vezes somos apegados mesmo a coisas que não nos fazem bem e muitas vezes nem temos consciência disso... como nos desapegar? Estabelecer um novo caminho... Grande caminhada e longa, com certeza.
Ao tentar refletir mais sobre o assunto, pensei: se começamos no yoga tentando trabalhar com o corpo primeiro, porque não também quando o assunto é hábito? Quantos vícios de postura temos? Quanto precisamos estar atentos para pisar, andar, sentar, deitar corretamente? O que é certo para uma pessoa é também para outra?
Achei então que uma boa maneira de começar a mudar os meus hábitos seria levando minha atenção plena para o meu corpo durante as minhas práticas e percebendo-o REALMENTE de dentro para fora. Muitos professores de yoga falam que o yoga trabalha de dentro para fora, mas o que seria realmente este dentro?
Sendo uma fã de anatomia e fisiologia desde muito nova, comecei então a pesquisar o que realmente acontece dentro de nosso corpo quando praticamos yoga. Como os ossos, os músculos, os tendões se movimentam junto com a respiração durante uma prática de asanas. E porque algumas pessoas têm tanta facilidade e outras tanta dificuldade em realizar os asanas? Ok, uns são mais encurtados do que os outros... mas só isso? Não me satisfazia. E a beleza do yoga que está em beneficiar qualquer praticante, independente do grau de flexibilidade que ele tenha? Com provar isso para o meu aluno?
Vamos falar um pouco então sobre alinhamento e espaço. Alinhamento do corpo durante a realização dos asanas e o espaço criado em certas articulações para que os músculos e tendões sejam seus aliados no movimento e não inimigos.
Eu costumo comparar a realização de um asana e os ajustes que fazemos para auxiliar o aluno com o trabalho de um escultor: o escultor recebe uma pedra bruta, enorme e tem que, aos poucos, transformá-la em uma obra de arte. Ele não pode começar com detalhes de rosto, por exemplo. Precisa, com uma ferramenta maior, tirar grandes pedaços para que a pedra possa começar a tomar forma. Este tirar grandes pedaços, são de fácil compreensão, mas nem sempre nos permite ver o que o escultor realmente está tentando fazer (difícil perceber o resultado imediato). Quando o corpo começa a tomar uma forma, as ferramentas vão diminuindo, é mais difícil modelar e compreender o que o escultor está querendo, mas ao mesmo tempo, é mais fácil perceber o resultado imediato.
Assim também o professor recebe um aluno novato e precisa ajudá-lo a posicionar o corpo no asana desejado. Os movimentos iniciais são de mais fácil compreensão (ex.: levar o tronco em direção às pernas), mas o resultado que o professor está querendo é mais difícil de compreender: alongar toda parte posterior do corpo, flexionando o tronco a partir dos quadris e não permitindo que a gravidade apenas “relaxe” o tronco à frente, deixando a cabeça pender para baixo e os ombros se moverem um em direção ao outro e os dois em direção ao peito, “fechando o coração” e curvando a dorsal (movimentando as escápulas uma para longe da outra). Os “pequenos pedaços”, envolvem a compreensão do que foi descrito acima: flexão a partir dos quadris, manter colona estável e forte, cervical também, ombros abertos, escápulas se movendo uma em direção à outra, para que o coração fique aberto e haja uma força não permitindo que a gravidade apenas empurre o tronco para baixo – estes movimentos demandam maior concentração e dedicação, mas quando realizados, sentimos o resultado imediato.
Por melhor que seja o escultor, ele nunca consegue fazer duas obras exatamente iguais. Da mesma forma, não é possível duas pessoas realizarem uma posição exatamente iguais. Assim como qualquer coisa que estamos treinando para aprender a fazer, este trabalho leva tempo, paciência, perseverança e vontade de mudar os hábitos.
Para que você possa realizar um asana bem, você deve conhecer bem o seu próprio corpo. Não há necessidade que você saiba o nome de todos os músculos e ossos. O conhecimento que me refiro é mais sutil e pessoal. Por isso o nome do artigo: anatomia, asanas e o SEU corpo. Isto porque cada corpo é diferente. Mesmo se pensarmos no osso fêmur, que a maioria de nós temos, não existem dois exatamente iguais. E esta é uma das razões pelas quais não é possível que duas pessoas realizem o mesmo asana de forma exatamente igual. Pois este osso diferente irá gerar compressões em diferentes partes de uma articulação e em tempos diferentes. É claro que a estrutura muscular em volta também irá influenciar, mas, mais uma vez, por mais que tenhamos um mesmo músculo (com mesmo nome), temos histórias de vida diferente e a maneira que estes músculos trabalham, sustentam e seguram a estrutura óssea é diferente (isso será assunto de um outro artigo a ser escrito posteriormente).
Este conhecimento do nosso corpo nos faz perceber onde não estamos alinhados e se um músculo está trabalhando além do que deveria e fazendo o trabalho de outro músculo. Quando isso acontece, esse músculo não está colaborando com o movimento buscado para que a articulação tenha espaço para se mover para chegar ao asana sem tanto esforço.
Segunda parte (em breve)
“Temos que ser capazes de reconhecer um hábito quando ele se manifesta, porque se soubermos como ele se organiza, ele perderá sua energia e não mais poderá nos controlar...temos que praticar para poder transformar cada hábito dentro de nós.”
Thich Nhat Hanh
Ao ler pela primeira vez estas sentenças de Thich Nhat Hanh, elas calaram fundo em meu ser. Reconhecer um hábito quando ele se manifesta... enfraquecê-lo... transformá-lo... como fazer isso sem julgar e se conscientizando de que você pode mudar. Sabendo que muitas vezes somos apegados mesmo a coisas que não nos fazem bem e muitas vezes nem temos consciência disso... como nos desapegar? Estabelecer um novo caminho... Grande caminhada e longa, com certeza.
Ao tentar refletir mais sobre o assunto, pensei: se começamos no yoga tentando trabalhar com o corpo primeiro, porque não também quando o assunto é hábito? Quantos vícios de postura temos? Quanto precisamos estar atentos para pisar, andar, sentar, deitar corretamente? O que é certo para uma pessoa é também para outra?
Achei então que uma boa maneira de começar a mudar os meus hábitos seria levando minha atenção plena para o meu corpo durante as minhas práticas e percebendo-o REALMENTE de dentro para fora. Muitos professores de yoga falam que o yoga trabalha de dentro para fora, mas o que seria realmente este dentro?
Sendo uma fã de anatomia e fisiologia desde muito nova, comecei então a pesquisar o que realmente acontece dentro de nosso corpo quando praticamos yoga. Como os ossos, os músculos, os tendões se movimentam junto com a respiração durante uma prática de asanas. E porque algumas pessoas têm tanta facilidade e outras tanta dificuldade em realizar os asanas? Ok, uns são mais encurtados do que os outros... mas só isso? Não me satisfazia. E a beleza do yoga que está em beneficiar qualquer praticante, independente do grau de flexibilidade que ele tenha? Com provar isso para o meu aluno?
Vamos falar um pouco então sobre alinhamento e espaço. Alinhamento do corpo durante a realização dos asanas e o espaço criado em certas articulações para que os músculos e tendões sejam seus aliados no movimento e não inimigos.
Eu costumo comparar a realização de um asana e os ajustes que fazemos para auxiliar o aluno com o trabalho de um escultor: o escultor recebe uma pedra bruta, enorme e tem que, aos poucos, transformá-la em uma obra de arte. Ele não pode começar com detalhes de rosto, por exemplo. Precisa, com uma ferramenta maior, tirar grandes pedaços para que a pedra possa começar a tomar forma. Este tirar grandes pedaços, são de fácil compreensão, mas nem sempre nos permite ver o que o escultor realmente está tentando fazer (difícil perceber o resultado imediato). Quando o corpo começa a tomar uma forma, as ferramentas vão diminuindo, é mais difícil modelar e compreender o que o escultor está querendo, mas ao mesmo tempo, é mais fácil perceber o resultado imediato.
Assim também o professor recebe um aluno novato e precisa ajudá-lo a posicionar o corpo no asana desejado. Os movimentos iniciais são de mais fácil compreensão (ex.: levar o tronco em direção às pernas), mas o resultado que o professor está querendo é mais difícil de compreender: alongar toda parte posterior do corpo, flexionando o tronco a partir dos quadris e não permitindo que a gravidade apenas “relaxe” o tronco à frente, deixando a cabeça pender para baixo e os ombros se moverem um em direção ao outro e os dois em direção ao peito, “fechando o coração” e curvando a dorsal (movimentando as escápulas uma para longe da outra). Os “pequenos pedaços”, envolvem a compreensão do que foi descrito acima: flexão a partir dos quadris, manter colona estável e forte, cervical também, ombros abertos, escápulas se movendo uma em direção à outra, para que o coração fique aberto e haja uma força não permitindo que a gravidade apenas empurre o tronco para baixo – estes movimentos demandam maior concentração e dedicação, mas quando realizados, sentimos o resultado imediato.
Por melhor que seja o escultor, ele nunca consegue fazer duas obras exatamente iguais. Da mesma forma, não é possível duas pessoas realizarem uma posição exatamente iguais. Assim como qualquer coisa que estamos treinando para aprender a fazer, este trabalho leva tempo, paciência, perseverança e vontade de mudar os hábitos.
Para que você possa realizar um asana bem, você deve conhecer bem o seu próprio corpo. Não há necessidade que você saiba o nome de todos os músculos e ossos. O conhecimento que me refiro é mais sutil e pessoal. Por isso o nome do artigo: anatomia, asanas e o SEU corpo. Isto porque cada corpo é diferente. Mesmo se pensarmos no osso fêmur, que a maioria de nós temos, não existem dois exatamente iguais. E esta é uma das razões pelas quais não é possível que duas pessoas realizem o mesmo asana de forma exatamente igual. Pois este osso diferente irá gerar compressões em diferentes partes de uma articulação e em tempos diferentes. É claro que a estrutura muscular em volta também irá influenciar, mas, mais uma vez, por mais que tenhamos um mesmo músculo (com mesmo nome), temos histórias de vida diferente e a maneira que estes músculos trabalham, sustentam e seguram a estrutura óssea é diferente (isso será assunto de um outro artigo a ser escrito posteriormente).
Este conhecimento do nosso corpo nos faz perceber onde não estamos alinhados e se um músculo está trabalhando além do que deveria e fazendo o trabalho de outro músculo. Quando isso acontece, esse músculo não está colaborando com o movimento buscado para que a articulação tenha espaço para se mover para chegar ao asana sem tanto esforço.
Segunda parte (em breve)
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