Professor do mês pela eYoga

Anderson Allegro O professor de Power Yoga, com 29 anos de prática, é um dos fundadores do Aliança do Yoga09/05/2008 eYoga: Conte um pouco sobre sua jornada no Yoga. Qual foi o motivo de você ter entrado para esse caminho e há quanto tempo você é praticante?Embora ninguém na minha família fosse praticante, achei um livro de Yoga perdido em casa e comecei a dar aulas de "exercícios" para meus primos, aos 10 anos. Era uma das minhas brincadeiras prediletas. Aos 16, me interessei por uma coluna sobre Yoga numa revista que minha família assinava. Comecei a praticar pela revista e, dois anos depois, me matriculei em uma escola de Yoga. Na época, não existia muito lugar onde praticar, nem onde se profissionalizar. Comecei a dar aulas aos 20 anos, sob a supervisão de minha instrutora, Eunice Lemos. Iniciei no Yoga pois queria uma atividade física, mas detestava fazer ginástica. Sempre dava um jeito de fugir das aulas de educação física. Ao iniciar no Yoga, percebi que aquelas posições atuavam em níveis muito mais profundos do que o físico. Nem sabia explicar como, mas podia sentir. Sou praticante há 29 anos.eYoga: O que mudou do tempo que você começou para os dias de hoje? Naquela época a quantidade de informação era muito pequena. Não existiam muitos professores e os livros eram raros. Em São Paulo, tinha uma livraria especializada. Os livros eram caros e tínhamos que encomendar e esperar meses para recebê-lo. Hoje até mesmo os textos clássicos estão disponíveis na Internet. Tive que batalhar muito para conseguir dar aulas e dependia da minha família para pagar meus estudos. Hoje, os instrutores que se formam no Aruna já encontram lugar para trabalhar e ganham muito mais do que eu imaginava ganhar na época.eYoga: Você enxerga a popularidade do Yoga como uma coisa positiva? Quais são os prós e contras do Yoga ter se tornado tão popular? Sim. Acho que o espaço que o Yoga tem hoje na mídia é muito positivo. Claro que muitas vezes acontecem distorções nas matérias, mas acho que essa popularidade auxilia as pessoas a chegarem ao Yoga. Cada um chega por um motivo, mas quase todos permanecem no Yoga por causa do aumento de consciência e da transformação que essa prática produz. O Yoga não é um modismo, mas uma tendência. O Yoga vem se expandindo continuamente desde os anos 50 e tenho certeza de que veremos um crescimento ainda maior nos próximos anos. Acho que o ponto negativo é que, ao se tornar tão popular, ele chama a atenção de pessoas e empresas que nada têm a ver com a filosofia. Aí vemos gente criando Yoga para o bumbum, Yoga para cachorro e outras esquisitices. Isso tudo dura dois meses e desaparece. Vemos também empresas que produzem sapatilhas para a prática, quando o Yoga deve ser feito descalço, ou roupas que não são adequadas. Não tenho nada contra a comercialização de produtos para o Yoga, mas é preciso entender as necessidades dessa filosofia e das pessoas que a praticam. As empresas que desejam atuar nesse setor precisam adequar-se aos padrões do Yoga, o que não é difícil.eYoga: Muitas pessoas que eu converso diz que acham a prática de Yoga interessante, mas muito cara, então preferem pagar uma academia que dá direito a fazer várias modalidades, do que pagar apenas pelas aulas de Yoga. Você acha que o preço cobrado pelas aulas ainda seja um empecilho para o que o Yoga se torne ainda mais popular?Não acho que o preço seja um empecilho. Quando comecei a praticar não tinha dinheiro nenhum, mas fui batalhar. Além disso, os valores variam muito e existem escolas que cobram bem barato. A prática na academia pode ser um início, mas não se compara com a prática feito em um espaço preparado física e energeticamente para esse fim. Já dei aula em academia e muitos dos meus alunos preferiram deixar a academia para praticar no Aruna Yoga. O professor era o mesmo, mas eles precisavam respirar a atmosfera do Yoga. Você pode fazer aula de dança na academia, mas se quiser ser bailarino, vai precisar procurar uma escola de ballet. Além disso, as pessoas pensam no quanto a academia oferece, mas deveriam ponderar no quanto elas usam do que é oferecido. Muitos de meus alunos pagavam academia mas faziam apenas as minhas aulas. Saía mais caro do que praticar em minha escola.eYoga: Você tem um lado militante, fundou o Aliança do Yoga. Conte-me como funciona a Aliança e o que vocês já conseguiram por essa associação?Não sei se tenho um lado militante, acho que a necessidade é que criou essa faceta. A Aliança foi criada com o intuito de defender o Yoga num momento que existia a ameaça dos conselhos de educação física normatizarem o Yoga. Nesse cenário, algumas vertentes de Yoga decidiram regulamentar a profissão ao invés de combater os conselhos de educação física. Mas regulamentar pressupõe definir e, portanto, limitar. A regulamentação proposta colocaria os instrutores numa camisa de força. Teríamos que agir dentro das normas impostas por um conselho de Yoga. E ninguém sabia quem seria esse conselho, como ele funcionaria e quais as regras que poderia criar. Vimos que a regulamentação poderia se tornar uma arma que se voltaria contra o próprio Yoga. Assim, eu, Pedro Kupfer e muitos outros instrutores fundamos a Aliança para termos representatividade perante os parlamentares em Brasília. Passei os últimos seis anos indo a Brasília com freqüência, de terno e gravata, cavando caminho até os parlamentares para explicar a eles o que é o Yoga e quanto essa regulamentação é desnecessária. Graças a Deus, encontrei muitos parlamentares e muitos assessores cheios de bom senso e que concordavam plenamente com nosso ponto de vista. Fiquei surpreso ao ver que não precisava explicar muito e eles já entendiam que a regulamentação do Yoga e a abordagem dos conselhos de educação física não passavam de pensamento corporativista e reserva de mercado. No final conseguimos arquivar o projeto de regulamentação do Yoga e várias vitórias jurídicas em relação aos conselhos de educação física. Mais do que tudo, conseguimos manter a liberdade dentro do Yoga.A Aliança é uma associação de instrutores de Yoga que propõe padrões mínimos para a formação de instrutores. Assim, podemos melhorar o nível das pessoas que se formam sem interferir na tendência filosófica de cada linha de Yoga. Conferimos, também, um termo de registro aos instrutores que estiverem dentro desses padrões mínimos. Com isso, sinalizamos para o público quais são os instrutores que tiveram uma formação consistente. eYoga: O yoga é união, mas você acredita que a classe profissional do Yoga seja unida? Quais são as dificuldades de manter a união entre tantas tradições e escolas diferentes?Muito do trabalho da Aliança foi trazer debate e clareza para a comunidade do Yoga. Os instrutores vêem a política como algo impuro e lavam as mãos. Por isso o Yoga acaba sendo ameaçado por aqueles que são mais organizados, mas que nem sempre tem ideais muito éticos. Eu não consegui ficar parado vendo o perigo real de o Yoga se tornar um cartel. O Yoga me ensinou a defender aquilo que acredito. Não defender o Yoga é atestar que não acredito nos seus ensinamentos. Nossa classe tem se tornado mais unida, mas ainda precisamos de mais mobilização. As pessoas não podem se deixar abater como Arjuna diante do exército inimigo. Ou nos unimos e defendemos aquilo que acreditamos ou carregaremos o peso de ter permitido que o Yoga seja controlado por yogis burocratas. Acho que o que mais impede a união das várias linhas é o ego de seus líderes e instrutores. Todos acham que sua linha é a melhor e olham desconfiados uns para os outros. O Power Yoga que ensino é o melhor estilo que existe, mas para mim e para os meus alunos. Ele não é o melhor para todo o mundo. A grande quantidade de modalidades existentes hoje em dia faz com que cada um possa encontrar o estilo que se adapte melhor às suas necessidades. Dizer que nosso Yoga é melhor do que o de outro instrutor é uma atitude mesquinha e desprovida de satya (verdade). Só quando respeitarmos todas as linhas de Yoga, poderemos criar um canal de comunicação uns com os outros. eYoga: O que falta atingir para que o instrutor de yoga seja mais reconhecido profissionalmente? A maioria dos instrutores que estão se formando no Brasil tem um nível excelente. Não ficamos devendo nada aos instrutores americanos ou europeus. Estudamos, pesquisamos e praticamos com muita seriedade e afinco. Muitos viajam à Índia com freqüência. Então, acho que precisamos valorizar os instrutores que temos aqui. O que indica que um instrutor é bom, não é o país em que nasceu, mas sua dedicação e sinceridade no estudo do Yoga.eYoga: Quem são seus mestres? Quem você admira?Considero como meu mestre Sri Nisargadatta Maharaj, autor do livro “Eu Sou Aquilo”. Só o conheci por seus livros, mas seus ensinamentos transformaram minha vida. Sua clareza e simplicidade são uma benção para mim. A lista de quem admiro é grande. Swami Satyananda é minha conexão com a tradição mais pura do Yoga. Bryan Kest me inspirou muito em relação ao Power Yoga. Pedro Kupfer é um amigo de longa data e um dos instrutores mais comprometidos com o Yoga que conheço. Sou grato pelo nosso compartilhar constante e silencioso. Fernando Felipe é um grande instrutor. É criativo, dedicado aos seus alunos e tem uma prática maravilhosa. Ele diz que aprendeu tudo comigo, mas sempre me surpreendo quando pratico com ele, pois tem um dom natural para ajustar e saber o que o aluno precisa. Jai Uttal abriu meu coração com seus kirtans e me ensinou o Bhakti Yoga. Entre as yoguinis, admiro Núbia Teixeira, cujas aulas são puro néctar e Marcelina Alegro, minha mãe, que se tornou instrutora com mais de quarenta anos e é um exemplo de força e sensibilidade.eYoga: Como é sua rotina diária? Pratica quantas vezes por dia? Qual sua preferência nas tradições?Minha prática externa tem mudado muito ao longo dos anos. Hoje me interesso muito pelos mantras, meditação e técnicas de relaxamento. Mas minha prática verdadeira acontece 24h por dia e consiste em manter meu estado de felicidade, ser generoso e amoroso com todos os que estão à minha volta, ficar atento aos meus padrões mentais e lidar com eles, perceber as armadilhas que o ego cria a todo o momento e tentar escapar delas. Esse treino de atenção constante não é fácil, mas é o que mais me estimula hoje em dia.eYoga: Quais os benefícios que você percebeu em você e na sua vida depois do Yoga? Meu corpo mudou muito e minha consciência dele, mais ainda. Mas acho que o principal ganho foi em serenidade e felicidade. Considero-me uma pessoa naturalmente feliz. Minha vida é cheia de desafios e contrariedades como a de qualquer outra pessoa, mas sinto que isso não afeta minha sensação de felicidade. Hoje encaro os problemas de uma maneira muito mais leve e, principalmente, confio na infinita sabedoria do universo que nos conduz, o tempo todo, para aquilo que nos fará crescer.eYoga: Qual foi a maior dificuldade para aplicar o Yoga em sua vida? Enquanto era só praticante, não havia nenhuma dificuldade. Como me tornei instrutor muito cedo, comecei a confundir a prática com a profissão. Como em qualquer área, trabalhar demais nos desestimula. O que me salvou foi a paixão que tenho pelo Yoga. Esse sentimento é como se apaixonar de novo, mas sempre pela mesma pessoa.eYoga: O que você diria aos leitores do site que, às vezes, desanimam com a prática?Tem momentos em que nossa prática cresce muito e nos sentimos muito estimulados. Depois, chegamos num patamar e parece que a prática se estagnou. Esse é o momento de reunir forças para começar a crescer de novo. Ao interrompermos a prática nesses patamares, perdemos o melhor da festa. Quando me sinto estagnado, procuro explorar alguma área do Yoga que ainda não me aprofundei. Estudo filosofia, canto mantras, treino a meditação, busco algum texto clássico. Em pouco tempo, o entusiasmo retorna.

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