PREFÁCIO DO LIVRO DICIONÁRIO DE YOGA

Desde os tempos mais remotos, o verdadeiro Yoga tem se mantido como um conhecimento reservado, secreto, acessível apenas àqueles que estavam preparados para compreender esta forma até hoje revolucionária de ver o ser humano. A prática desta técnica milenar promove a unificação do Ser, o autoconhecimento e a realização humana em todos os níveis da existência. A nossa cultura ocidental, alicerçada sobre valores como progresso e tecnologia, ainda está muito longe de vislumbrar o verdadeiro poder latente no homem. Shrí Aurobindo disse com razão que os psicólogos ocidentais procuram enxergar a alma humana como quem tenta observar um elefante através de uma lupa. Se observarmos o Yoga com alguma idéia preconcebida, tanto em contra quanto a favor, não poderemos elucidar a sua essência. Para que a investigação seja útil, exige absoluta isenção e objetividade. Um método de autoconhecimento, especialmente ao ser muito antigo, constitui parte essencial da História do pensamento humano. Desta forma interessa ao pesquisador, antropólogo ou historiador das religiões, independentemente do seu significado. O Yoga está indissoluvelmente ligado ao homem no sub-continente indiano desde o alvorecer da civilização vêdica, uma das mais antigas do mundo, havendo exercido e exercendo até o presente momento uma significativa influência sobre milhões de pessoas. Porque um dicionário de Yoga? Sentimos a necessidade de esclarecer o verdadeiro imbroglio que é a transliteração do sânscrito para o português. Sem sermos sanscritistas, estudamos a fundo nas fontes mais autorizadas do fértil e variado universo desta fascinante língua. A palavra é sempre expressão do mundo de quem a usa: o grande obstáculo, em se falando de conhecimento originário de outras culturas, é traduzir expressões alheias à nossa realidade. O principal objetivo desta obra é desvendar o significado profundo das expressões utilizadas pelo Yoga, muitas das quais não possuem uma tradução direta nas línguas ocidentais. Incluímos igualmente referências ao hinduísmo e à mitologia que consideramos pertinentes. O leitor poderá eventualmente encontrar verbetes neste trabalho que não tenham aparentemente nada a ver com Yoga, como aqueles que falam de arqueologia ou lingüística. Porém, somos filhos do nosso tempo. E em nosso tempo, a História da Índia foi mal contada. Talvez daqui a duzentos ou trezentos anos esses pontos de vista já tenham sido assimilados pela opinião pública, mas hoje é necessário ressaltá-lo para conseguirmos ver o Yoga em sua verdadeira perspectiva histórica. É sempre dificultoso para o estudante ou mesmo para o professor de Yoga memorizar as miríades de consoantes e a pronúncia correta dos vocábulos. Este manual de consulta, que tem a pretensão de ser não apenas uma extensa lista de conceitos mas um trabalho orientador, visa a auxiliar o estudioso e o leitor diletante, não somente de Yoga, mas também de indologia e filosofia hindu. Nesse sentido, a proposta deste modesto trabalho é preencher um vazio nas prateleiras das nossas bibliotecas, dada a dificuldade de serem encontrados livros honestos sobre o tema na nossa língua. Se você, amigo leitor, conseguir vislumbrar através deste livro a riqueza da herança que a Índia imortal nos deixou, e ainda ficar fascinado pela capacidade real de transformação que o Yoga possui sobre o ser humano, nosso objetivo terá sido plenamente alcançado.

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